Ilustração de André Valente (BBC News)
Thais Carrança
BBC News Brasil
Desmaios por fome e pedidos de doação de alimentos tornaram-se rotina nas escolas públicas, em meio ao desemprego elevado e avanço da insegurança alimentar no país
“Essa aluna chegou bem atrasada. Ela bateu na porta da sala de aula, eu abri e notei que ela não estava bem, mas não consegui entender o porquê. Passei álcool na mão dela e senti a mão muito gelada, num dia em que não estava frio para justificar.”
PASSANDO FOME – “Ela sentou e abaixou a cabeça na mesa. Eu estranhei e chamei ela à minha mesa. Ela veio e eu perguntei se ela estava bem. Ela fez com a cabeça que estava, mas com aquele olhinho de que não estava. Perguntei se ela tinha comido naquele dia, ela disse que não.”
“Fui pegar algo para ela na minha mochila — porque eu sempre levo um biscoitinho ou uma fruta para mim mesma. Mas não deu tempo. Ela desmaiou em sala de aula.”
O relato é de uma professora da rede municipal do Rio de Janeiro. A aluna tem 8 anos, é negra e estuda em uma escola localizada em um complexo de favelas na Zona Norte carioca. O episódio aconteceu em setembro deste ano.
“Eu fiquei realmente sensibilizada por essa situação”, conta a professora. “Por que é isso: a fome. Uma fome que a criança não sabe expressar a urgência. E que envolve muitas vezes a vergonha. Para ela é algo humilhante, por isso ela não consegue expressar.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria foi enviada pelo comentarista Antonio Corrêa Filho. Reflete uma situação terrível, que demonstra a importância da merenda escolar, que Deus ajude as criancinhas e evite que políticos e administradores desviem esses recursos. (C.N.)