O recado das ruas

Por:Zózimo Tavares
Não saiu como o governo esperava nem como a oposição queria. A primeira onda de manifestações contra o governo, realizada ontem, escapou aos prognósticos mais otimistas dos dois lados. Na maioria das capitais, para alegria dos governistas e tristeza dos oposicionistas, os protestos reuniram poucos milhares de pessoas. Em algumas, chegaram a ser mesmo um fiasco. Em outras, como Brasília, as ruas encheram as vistas. Já São Paulo levou um milhão de pessoas à Avenida Paulista e bateu o recorde de público.
Os manifestantes voltaram às ruas ontem por vários motivos. Uns estão revoltados com a corrupção, outros querem investigação do petrolão e punição dos culpados; outros mais estão insatisfeitos com a volta da inflação e a falta de perspectivas para a retomada do crescimento econômico.
Entre os manifestantes estavam também os que defendem o afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo. E ainda os que pregam a volta dos militares. Trata-se, neste caso, de um grupo radical que vem sendo combatido também de forma radical pelos que estão no poder. No passado, estes também defenderam com a mesma intransigência a queda do governo e a implantação de regimes ditatoriais de esquerda do país.
Em um país democrático como o Brasil, defender nas ruas a volta dos militares não chega a ser o fim do mundo. Preocupante seria que os defensores dessas ideias reacionárias passassem a conseguir adeptos em quantidade expressiva e de forma acelerada, o que não é o caso.
O Brasil vê hoje nas ruas tão-somente o resultado de um país que saiu dividido das urnas. É o começo da pressão popular sobre um governo que, embora seja continuação dele mesmo, ainda não encontrou o seu rumo nem deu respostas aos graves e urgentes problemas que afligem o país, como a violência, os serviços de saúde, a mobilidade urbana, etc.
O risco é o governo continuar nesse imobilismo e as ruas tomarem gosto pelas ruas.

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