Greve na Uespi chega ao 3° dia e estudantes ocupam reitoria durante protesto

Estudantes da Uespi ocupam reitoria durante protesto (Foto: Divulgação/Adcesp)

Por: Lorena Passos 

Colaboração de entrevista, Paula Sampaio (no local)

Estudantes da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) ocuparam a reitoria da instituição durante protesto nesta quinta-feira (21/03) em Teresina. Eles aderiram à greve dos professores e pedem melhorias para a estrutura do local. Sob gritos de “Uespi se nega a morrer”, eles querem debater as condições que a universidade enfrenta.

Há falta de professores nas disciplinas, bolsas foram cortadas e recursos para pesquisa e extensão foram limitados. Eles também pedem melhorias estruturais, já que não possuem biblioteca atualizada ou um restaurante universitário que atenda a demanda dos discentes.

“O teto está caindo, tem vazamento. Não temos biblioteca, tiraram nossas bolsas, não temos segurança. Queremos a reestruturação da Uespi”, disse Letícia, estudante do 2° período de Direito ao OitoMeia.

GREVE DOS PROFESSORES E GREVE ESTUDANTIL

Eles apoiam os pedidos dos professores sobre reajuste de gratificações e promoções. Mas, como algumas pautas são diferentes, eles também decidiram deflagrar o próprio movimento. Eles querem, inclusive, que os polos do interior participem das reivindicações.

O estudante de psicologia Pedro Henrique, 17 anos, lamentou a falta de estrutura da universidade. Calouro, ele já sentiu as dificuldades do próprio curso e decidiu se unir aos veteranos.

“A insatisfação dos professores é em comum com a nossa, mas temos algumas pautas diferentes. Vamos preparar um ofício que vai demonstrar que o movimento é pelos estudantes. Queremos uma melhor assistência e permanência da instituição. Temos 291 disciplinas em aberto e falta 26 professores serem efetivados. Os funcionários que fazem a limpeza das nossas salas e a nossa segurança estão há 3 meses sem receber salário. O nosso curso, que vai até à noite, sofre com o perigo e não tem segurança. Isso faz com que alunos tenham receio de assistir aula”, disse ao OitoMeia.

Para o estudante, o movimento não é bagunça ou férias, mas a luta por um ensino de qualidade nas instituições públicas do Piauí.

“Isso não é baderna, férias ou bagunça. Nós estamos mobilizados aqui e queremos mostrar para a sociedade a situação precária onde estudamos e lutamos pelo nosso sonho [diploma]. Queremos cursar nossos cursos de forma eficiente. Os alunos passam o dia aqui [precisam de apoio], queremos que nossas demandas sejam esclarecidas. Nós somos muitos, precisamos que nossa voz seja ouvida pelo Governador’, destacou.

TROCA DE FARPAS ENTRE VICE-REITOR E ESTUDANTES

Alunos da Uespi em greve trocam farpas com vice-reitor após declaração na TV (Foto: Paula Sampaio/OitoMeia)

No entanto, o estudantes afirmam que apesar da ocupação ser pacífica e válida, o vice-reitor mandou que os ares-condicionados fossem desligados. O objetivo, segundo eles, é dispersar o movimento.

“A gente não quebrou nada e fechamos o prédio de forma pacífica. Falamos com o vice-reitor e ele disse que iria dar suporte e estrutura, mas cinco minutos depois, os ares-condicionados foram desligados. Nós estamos atrás de alimentação, alertamos que religassem os aparelhos. Nós criamos uma comissão para localizar banheiro e fonte de água. A gente mantém o movimento, assim como mantém essa universidade”, afirmou Pedro Henrique.

Outro ponto que deixou os estudantes chateados foi a fala do vice-reitor Evandro Alberto de Sousa sobre a greve das duas categorias. Em entrevista à TV Clube esta manhã, ele disse que o movimento prejudicaria a Uespi.

“Ele como vice-reitor, deveria ser um dos que mais apoia nossa causa, porque está ciente da nossa situação. Para gente, ele disse que ofereceria toda a estrutura, mas para a mídia, ele declara que a greve prejudica a Uespi. A situação que nós vivemos nos nossos cursos é prejudicial, a gestão atual é prejudicial, negligência em relação aos alunos, professores e campi… isso é prejudicial. Uma série de coisas que deveriam funcionar, mas não funcionam. Estamos no nosso direito”, completou à reportagem.

VICE-REITOR DIZ QUE FOI “MAL-INTERPRETADO”

O vice-reitor da Uespi lamentou a falta de diálogo entre os professores e o Governo do Piauí. Para ele, os prejuízos poderiam ser evitados.

“A greve é justa. Ela aconteceu porque o estado não recebeu a categoria. Foi protocolada a solicitação para que conversássemos. E chegou esse momento, que a greve deflagrou. Quando digo que prejuízos poderiam ser evitados, é porque se tivessem dialogado, talvez não tivesse chegado nesta situação. Agora é preciso que ambos [professores e Governo] cheguem a um ponto comum”, disse ao OitoMeia.

Sobre a troca de farpas com os estudantes, Evandro Alberto diz ao OitoMeia que foi mal-interpretado.

“Não fui compreendido nesse quesito. Quando uma greve é deflagrada, ela traz alguns prejuízos. Por exemplo, o estudante fica sem aula, mas é só nesse aspecto. Acho que até o nosso silêncio poderia trazer essa interpretação [que os estudantes alegaram]”, concluiu.

GREVE DOS PROFESSORES

Todos os campi da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) aderiram à greve dos professores, segundo a Associação dos Docentes (Adcesp). Durante toda a segunda-feira (18/03), os polos pelo interior do Estado se reuniram para discutir a necessidade do movimento. Boa parte deles aderiu totalmente, enquanto alguns tem cursos funcionando.

A greve começou oficialmente na segunda-feira (18/03). “Em alguns campi a adesão é parcial e em outros total. Mas a categoria como um todo percebeu a necessidade desse movimento diante da situação caótica da Uespi”, afirmou a professora Rosângela Assunção, coordenadora geral da Adcesp.

GOVERNADOR PEDE BOM SENSO

O governador Wellington Dias (PT) afirmou à imprensa piauiense que “falta bom senso aos professores e alunos” da Universidade Estadual do Piauí (Uespi). A greve veio em um momento no qual o Estado passa por dificuldades orçamentárias.

“Eu tive a oportunidade de dizer aos líderes que têm problemas que não tem solução e esse é um exemplo. Tem a Lei de Responsabilidade Fiscal que o Estado é obrigado a cumprir. Eu precisaria descumprir uma lei para atender a Uespi, nessa hora, eu peço aos servidores e alunos da Uespi o bom senso”, informou o chefe do executivo piauiense.

A Adcesp, no entanto, não concorda com isso e diz que os docentes estão há seis anos sem receber reajuste salarial. Tal situação fere a Lei Complementar 124 e ainda a Lei de Responsabilidade Social por não zelar e dar condições de funcionamento aos bens públicos.

“O governador já está descumprindo a lei. Nós temos a Lei Complementar 124 que trata dos Planos de Cargos e Salários do professores da Uespi. Quando o governador não implementa nossas Promoções, Progressões e não dá o reajuste no salário de acordo com a inflação, está descumprindo nossa lei”, argumentou Antônio Dias, chefe de Comunicação da Adcesp ao OitoMeia.

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