Fizeram a festa e esqueceram os músicos

Por: Pádua Marques, jornalista e escritor.

Tenho um colega de longa data em Minas Gerais. E um dia desses, ele me contava que na sua terra, cidade pequena à época, pouco mais de três mil cabeças, os mais ricos de lá, pra comemorarem a vitória de um neto que havia ganhado as eleições pra prefeito, organizaram uma festa. Festa com muita comida, bebida no balde, presente pra todo mundo, coisa de dar no meio da canela da vaca que dá mais leite.

E à noite iria ter uma festa com banda, vinda do interior da Bahia, dessas que empestam e aparecem feito mosca varejeira na época do carnaval e são doidas pra comerem dinheiro de prefeituras. Porque em Minas, se não for procissão, é procissão. E voltando pra festa, muita gente veio de povoados pra se encostar no muro da igreja esperando o que iria acontecer. Porque disseram que teria uma banda afamada.

Lavaram as escadas da igreja e da prefeitura, deram uma mão de cal no meio fio das calçadas, apararam os troncos das árvores. Deixaram a cidade um brinco. E foi tanta a movimentação dessa gente que os donos esqueceram ou deixaram pra cima da hora a contratação da banda. E na hora, já adiantada ainda andavam procurando quem poderia fazer o discurso do prefeito vitorioso.

Quando se deram conta já estava adiantada a hora e ninguém havia tomado uma providência.  E chegam as moças, os rapazes, os casais convidados, as velhas aposentadas com seus vestidos de seda e com cheiro de água de colônia. O juiz e o chefe da agência do INSS já estavam há tempos numa conversa sem fim e mais adiante o prefeito que deixava o cargo ainda se debatia com o atraso da mulher em se arrumar.

E ninguém se lembrou dos músicos. O certo é que não teve quem desse conta e só em cima da hora é que descobriram a falta de organização. É dessa forma que fiquei sabendo de uma reunião que houve essa semana aqui em Parnaíba com assessores e superintendentes do prefeito Mão Santa para o setor de turismo.

Lendo as notícias verifiquei que entre os presentes não tomei conhecimento de ninguém do setor privado. Se é que tem alguém que faça parte desse conselho. Como é que tem um conselho de turismo, atividade essencialmente própria da iniciativa privada, e não tem neste conselho um representante? Pelo que li apenas pessoas com perfil de consultoria, mas sem nenhuma experiência bem sucedida.

E a velha discussão da viabilidade econômica pelo turismo da praia da Pedra do Sal, o aeroporto de final de semana, a inveja contida de Jericoacoara, no Ceará, essas coisas antigas e repetidas. Ainda vai levar bastante tempo pra essa gente leiga e aventureira perceber que desenvolvimento do turismo não se faz dentro de gabinete de governador ou de prefeito. Antes de decidir em fazer uma festa é preciso saber se tem banda de música.

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