Opinião:”Governo ameaça professores, mas a greve continua”

Por:José Olímpio

Os professores piauienses, reunidos ontem (2) em Assembleia Geral, decidiram pela continuidade do movimento grevista iniciado no dia 10 de fevereiro e por um acampamento em frente ao Palácio de Karnak, a partir de amanhã (4).

Wellington ameaça os professores, mas a greve continua

Em resposta, a Secretaria de Educação do Estado divulgou uma nota que contribuiu para acirrar ainda mais os ânimos, ao reafirmar que o governo já paga mais que o piso nacional aos professores piauienses, o que não é verdade, repita-se.

O teor da nota, que publicamos abaixo, é uma recusa ao diálogo. Na verdade, faz dois anos que os educadores piauienses não sabem o que é aumento de salário.

Em 2019, os mestres ficaram sem o reajuste de 4,17%. Como prêmio de consolação, a categoria foi contemplada com um auxílio-alimentação que este ano recebeu o fabuloso aumento de R$ 5. Isso mesmo: cinco reais.

Agora, em 2020, o reajuste nacional foi de 12, 84%, mas Sua Excelência, utilizando o argumento de sempre, diz que o Piauí está no limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal e não pode conceder o aumento reclamado.

Divulga, por meio da imprensa oficiosa, que paga o piso de R$ 3.167,00, mas não explica que consegue essa proeza somando todas as gratificações ao salário base, o que não é permitido pela lei do piso.

Os professores, por sua vez, exigem o pagamento do reajuste de 2019 e o deste ano que, somados, chegam a 17,04%, mas o governo mandou para a Assembleia Legislativa uma mensagem concedendo apenas 4,17% e acusa as lideranças do movimento de intolerância, ameaçando cortar o ponto dos grevistas.

As contradições do governo o levam ao descrédito. Quando acossado pela oposição que denuncia o descalabro das contas públicas, Wellington Dias diz que as finanças do Estado estão equilibradas e, para justificar os recorrentes empréstimos, garante que o Piauí tem capacidade de endividamento muito grande ainda.

Mas, quando o funcionalismo público reivindica a correção de seus salários, a choradeira é grande. O Estado nunca sai do limite prudencial da LRF. Não há como conceder aumento. Só falta admitir a quebradeira denunciada pela oposição.

No entanto, não falta boa vontade a Sua Excelência na hora liberar polpudas verbas para os nobres deputados estaduais. As chamadas emendas impositivas totalizam R$ 50 milhões no orçamento de 2020, cabendo a cada parlamentar a importância de 1 milhão e 600 mil, para que gastem como lhes convier.

Os defensores do governo se apressarão em dizer que as emendas são impositivas. Tudo bem, mas o que impede Sua Excelência, em meio a tantas dificuldades que o seu governo enfrenta, de propor aos nobres deputados a suspensão temporária da gastança dos recursos públicos?

Com essa e outras medidas de austeridade, o governo faria uma boa economia. Basta um melhor controle sobre as mordomias, despesas com viagens infrutíferas pelo mundo afora e uma lupa para acompanhar o setor de compras do governo.

Lamentavelmente, os outrora defensores dos trabalhadores, especialmente os senhores Wellington Dias e João de Deus, que tantas greves lideraram no Piauí cobrando melhores salários e condições de trabalho, hoje utilizam os mesmos argumentos dos inimigos da educação para humilhar o magistério e negar os seus direitos. Até mesmo o direito de greve.

Não se faz educação de qualidade sem valorizar os professores e sem prédios escolares decentes e equipados. O governo petista comete o mesmo erro de seus antecessores, maltratando os educadores e descuidando da manutenção das escolas públicas, de modo que a educação piauiense só anda bem na retórica oficial e na mídia oficiosa.

Ó tempora, Ó mores! (Diário do Piauí)

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