Por: Zózimo Tavares
Envelhecer dói. Os jovens que estão ingressando agora no jornalismo não sabem disso, nunca ouviram nem falar, mas há pouco mais de 20 anos o que mais animava a bancada federal do Piauí era apresentar emendas ao Orçamento da União para construir barragens. E em poucos anos, o Estado construiu dezenas de barragens.
Os parlamentares e o governo de plantão diziam que as barragens eram para abastecer as populações e propiciar a expansão da irrigação. O Piauí armazenou bilhões de metros cúbicos de água nesses reservatórios. Mas eles não se prestaram nem para uma coisa nem para a outra. Ou seja, nem abasteceram as cidades nem incentivaram a produção agrícola.
As sucessivas secas estão aí para provar isso. Os sertanejos andam longas distâncias a fim de conseguir água para beber. Ou a recebe ainda através de carros-pipas que rodam também muitos quilômetros. Na construção dessas barragens, o governo despejou milhões de reais e a esmagadora maioria delas serve apenas para piqueniques de fim de semana.
Mais adiante, quando a fonte das emendas para recursos hídricos secou, então os nossos parlamentares se animaram em defender verbas orçamentárias para estradas. As rodovias federais que cruzam o Piauí viraram um tapete. As BRs passaram a contar com equipes de plantão para executar a operação tapa-buraco. Em muitos trechos, desmanchou-se asfalto bom para fazer outro por cima.
Com os parlamentares pavimentando, através de emendas para as estradas, a sua reeleição e para a busca de novos mandatos, o foco começa a mudar. Agora o olho deles cresce para cima da saúde! E foi isso o que levou a bancada federal a fatiar, ontem, em Brasília, os recursos das duas emendas impositivas que cabiam ao Estado, no valor de R$ 230 milhões.
O deputado federal Marcelo Castro (PMDB), que por mais de dez anos teve o Dnit do Piauí nas mãos, sacou na última hora uma proposta retirando dinheiro da duplicação das BRs (de Teresina a Altos e de Teresina a Demerval Lobão) para a agricultura e a saúde. A bancada acompanhou. Foi o remédio que os parlamentares encontraram para continuar vitaminados na política. Na manobra, destinaram R$ 90 milhões dos R$ 230 milhões para a duplicação de 38 quilômetros do trecho em direção a Altos. A BR-316, em direção ao Sul do Estado, não entrou nas prioridades deles.