Tem alguns acontecimentos no Piauí que já fazem parte da agenda do noticiário do Estado. Alguns com mês marcado para ocorrer, como é o caso da greve dos motoristas do transporte coletivo de Teresina, que ocorre periodicamente no mês de maio – data base da categoria – . Outros apenas com a freqüência anual de sempre. Nesta parte da lista é que está um acontecimento que sempre envergonha o Piauí em nível nacional. Trata-se da crise de manutenção do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Até o leitor, telespectador e ou ouvinte menos avisado já sabe que todo ano, por pelo menos duas vezes, a arqueóloga Niede Guidon vai colocar a boca no trombone para relatar a crise , entregar os pontos e fechar o Parque. O motivo é sempre o mesmo: falta de recursos para continuar a gestão do local. E a insustentável situação de um patrimônio cultural e natural da humanidade, localizado no Piauí, se torna notícia nacional, melhor; vergonha nacional.
Tombada pelo desafio de atrair turistas para uma área de difícil acesso, apesar de um aeroporto internacional recém inaugurado, pelas dificuldades de repasses nos recursos do ICM Bio – situação que não é exclusividade do Parque Nacional da Serra da Capivara – e agora pela impossibilidade jurídica de um convênio que repassou à Fundham (Fundação do Homem Americano), Niéde entrega os pontos mais uma vez e fecha o parque para a visitação pública. Com o potencial de visita subaproveitado já é difícil manter o funcionamento do local com recursos próprios, imaginem fechado, mas o gesto de Niede é de autopreservação e sinceridade com a equipe que trabalha no local. Como não podem receber salários não devem continuar trabalhando. E de autopreservação porque a vida da arqueóloga se confunde com os sítios e o patrimônio arqueológico que guarda o Parque.E sem pessoal para cuidar os riscos de depredação com a visitação só aumenta.
O mais grave não é a repetição da crise, a repetição da vergonha internacional não só para o Piauí, mas para o próprio país. O mais grave é que entra crise e sai crise e não se tem conhecimento de ações conjuntas e efetivas, de todas as esferas de pode, municipal, estadual e federal para que o Parque se torne autosustentável, vire prioridade, consiga sobreviver. O mais irônico é que esta crise vem à tona exatamente um mês depois de uma equipe da TV pública alemã ter vindo ao Piauí justamente gravar documentário sobre a riqueza mundial que o Piauí abriga. Ou seja; um potencial do Piauí que é divulgado, mas não é efetivamente preservado.(Elizabeth Sá)