O imbróglio entre o governo do Estado e os policiais militares que deflagraram o movimento “polícia legal” em protesto contra os baixos soldos e as precárias condições de trabalho, revela que o governador Wellington Dias (PT) passou por uma metamorfose que o deixou irreconhecível.
Aquele jovem e humilde sindicalista que construiu carreira meteórica na política piauiense elegendo-se sucessivamente a vereador, deputado estadual, deputado federal, governador e senador da República, sempre afeito ao diálogo, hábil negociador, transformou-se em sua terceira gestão em um governante autoritário e tirânico, a julgar pela maneira como trata os militares que aderiram ao movimento, na base da política do “prendo e arrebento”, que lembra um velho general do crepúsculo da Ditadura Militar que pediu para ser esquecido pelo povo. E foi.
Em vez de dialogar com as lideranças do movimento, Wellington Dias radicalizou e mandou prender e processar a todos, argumentando que teriam cometido um crime ao estimular os militares a paralisar suas atividades. Esse legalismo extremado do governador não se coaduna com o seu passado de lutas sempre presente às greves de sua categoria, os bancários, e de outros trabalhadores, mesmo aquelas consideradas ilegais pela Justiça.
O movimento dos PMs piauienses pode até ser ilegal, conforme os códigos militares, mas é justo e reflete o descaso do governo estadual com a questão da segurança pública, sempre negligenciada pelos governantes. Os policiais vão às ruas, arriscando a própria vida, no combate ao crime sem equipamentos de segurança, com coletes à prova de bala vencidos, armamentos imprestáveis e viaturas sucateadas, que muitas vezes ficam no prego por falta de combustível. Isso tem contribuído para aumentar significativamente o número de policiais mortos em confronto com os bandidos.
O contingente da PM apresenta um déficit de mais de 6 mil homens e o atual governo, a exemplo de seus antecessores, nada faz no sentido de aumentar o número de policiais, através de concurso público, equipar melhor a PM, comprar novas viaturas e armamentos. Em vez de valorizar os policiais piauienses está sempre apelando para a Força Nacional, que representa uma despesa razoável e não resolve o problema da criminalidade no Piauí.
Sem falar nos subsídios pagos ao PM piauienses (R$ 2.498,66) inferior ao que é pago a um soldado no vizinho estado do Maranhão que este ano vai saltar de R$ 2.708,39 para R$ 3.237,57, segundo maior salário do Nordeste, conforme mensagem de aumento encaminhado pelo governador Flávio Dino (PCdoB) à Assembleia Legislativa do Maranhão. O reajuste concedido pelo governo maranhense aos PMs, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e Agentes Penitenciários varia de 23,8% a 88% no acumulado até 2018. Soldados e cabos da PM do Maranhão terão recomposição salarial de 19,5%.
No Piauí, Sua Excelência, em lugar de abrir um diálogo franco com as lideranças do movimento “polícia legal”, prefere agir autoritariamente mandando prender os militares que cometeram o “crime de lutar por melhores salários e melhores condições de trabalho”. A atitude do governador contraria os postulados da democracia e revela o seu despreparo para lidar com situações que exigem serenidade e equilíbrio do governante.
