Por: Gallas Pimentel(*)
O assunto do momento é política. E ninguém fala noutra coisa a não ser no crescimento da candidata Marina que superou o Aécio e está se batendo em igualdade de preferências de votos com a presidente Dilma, candidata à reeleição. Tirando esse negócio de partido, o povo vota mesmo é no candidato, e não no partido. O crescimento de Marina é um fenômeno. Não se sabe se passageiro ou se perdurará até o dia da votação.
Talvez levado pela comoção do trágico acidente que ceifou a vida de Eduardo Campos o povo descambou para o lado da Marina. Ademais, nada de novo. Apenas promessas, candidatos jogando farpas entre si (o que é peculiar entre os políticos brasileiros) em vez de apresentarem plataformas de soluções para os constantes problemas de nosso país que são muitos, principalmente na saúde, na educação e na segurança. No meu modo de ver, legalizar a maconha, o aborto ou apoiar o casamento de pessoas do mesmo sexo são coisas mínimas com relação aos grandes problemas do nosso país, como os já citados neste texto.
Mas como estava dizendo, no meu modo de ver, na minha maneira de observar as coisas, a forma de se fazer política no Brasil não mudou nada. E olhem que desde que eu me entendi como gente que acompanho movimentos políticos. E isso já faz bem um “tempão”. Na casa de meu pai então, lá em Tutóia, dia de eleição era uma festa!
Pois bem, voltando ao que ia dizendo, pra não perder o fio da meada, desde que me entendi como gente que o blábláblá é o mesmo: promessas, enrolações, compra de votos, votos trocados por sandálias, dentaduras, remédios, promessas de emprego etc… Numa cidade do interior do Maranhão um vereador eleito ficou conhecido como “o vereador cinderela ou vereador de um pé descalço”. Ele entregava apenas um pé da sandália ao eleitor na promessa que se fosse eleito entregaria o outro pé após o resultado das urnas. E aí me faz lembrar outro candidato a vereador que era dentista e que se elegeu tantas vezes quis distribuindo dentaduras (as famosas pererecas) aos seus eleitores. Numa semana visitava os eleitores, extraía-lhes os dentes, fazia os moldes e na outra semana era a distribuição. Levava um saco cheio das pererecas e a pessoa contemplada ia provando, provando até encontrar a que melhor se encaixava na sua gengiva. Ah que nojo!, diriam minhas netas de 5 anos de idade.
Nada mudou! Aliás, volto atrás. É claro que alguma coisa mudou. A forma de se votar por exemplo. A urna eletrônica que diminuiu (?) as fraudes e que de imediato dá o resultado da votação.
Semana passada, ao ler os blogs da minha cidade natal no Maranhão noticiando a visita de um candidato ao governo do estado àquela cidade quedei-me perplexo com a notícia que dizia que um ex-prefeito, uma das lideranças políticas da cidade “havia liberado seus eleitores” para votar no candidato que quisessem. Fiz-me então, a seguinte pergunta: alguém é dono do voto de outrem? Imediatamente minha memória voltou ao passado e rememorei uma cena que presenciei quando criança na casa de meu pai. Naquele tempo a urna era de madeira na qual os eleitores depositavam as chapas votadas com os nomes dos candidatos. No dia da eleição meu pai, que na época era um dos políticos influentes em Tutóia, abatia algumas para distribuir carne para os eleitores. Mas antes, ele entregava as chapas já marcadas (olha a corrupção aí gente!) para o eleitor colocar na urna e voltar para receber a carne. É claro que tinha alguém vigiando o eleitor para evitar que durante o trajeto até a sessão a chapa fosse trocada. Um desses eleitores perguntou ao meu pai: – seu Moisés, pra quem é mesmo que eu tô votando? Meu pai respondeu de pronto: – pra que tu quer saber, caboclo? Tu não sabes que o voto é secreto?
(*)Gallas Pimentel é professor e jornalisa
Fonte:Jornal “Tribuna do Litoral”