Condicionar composições municipais à vontade do governador apequena lideranças

Em alguns casos, ressalte-se, mesmo que o governador não esteja nem aí, os aliados repetem a lógica para agradar.

Vemos líderes municipais, muitos deles tradicionais e com história política em suas cidades, protagonizarem disputa esdrúxula com adversários locais para saber quem tem maior simpatia do gestor estadual. Em algumas situações, existe troca de farpas devido à ciumeira por conta do apoio do governador.

Palácio de Karnak influencia cada vez mais na política dos municípios (Thiago Rodrigues/Lupa1)

É natural que a figura do governador do Estado exerça influência em algumas das principais cidades e em um ou outro caso isolado de cidade pequena que seja do seu interesse. Mas, o que se nota no Piauí é que muitas lideranças municipais resolveram colocar seus prestígios no chão para condicionar toda e qualquer discussão sobre alianças locais à lógica das alianças partidárias de nível estadual.

Isso nunca existiu! Até mesmo na rivalidade PT x PFL, em algumas cidades os dois partidos estavam no mesmo palanque. As alianças municipais eram decididas pelas lideranças políticas dos municípios, não importando se elas destoavam de composições estaduais. E mais: os líderes políticos tocavam as disputas nas cidades sem se ajoelhar à figura do governador, ainda que um dos lados na disputa fosse seu aliado.

É verdade que o uso da estrutura pública estadual nas eleições municipais se “globalizou” nos últimos anos e alcança todas as cidades, o que faz muitos políticos quererem estar do lado da máquina do governo. Contudo, nada justifica exigir que a lógica partidária de nível estadual se reproduza igualmente nos municípios.

Historicamente, governador não apitava na engenharia política das cidades. Se dois partidos eram rivais na cena estadual, isso não era critério para ser levado em conta nas composições políticas municipais, sobretudo nas cidades mais pequenas. Quem influenciava eram os líderes locais, muitos deles caciques políticos.

Essa “moda” de querer reproduzir ao máximo as alianças estaduais nas cidades apequena as lideranças municipais, enfraquece o poder de decisão de grupos tradicionais e faz a engrenagem política do interior minguar. Por outro lado, concentra poder no titular do Palácio de Karnak, o que, do ponto de vista democrático, não é bom.

Em outros tempos os municípios tinham líderes altivos, que lideravam de fato o jogo eleitoral em seus redutos políticos. Hoje, a maioria deixa ir para o ralo a própria capacidade de liderança ao permitir que forças externas ditem o cenário em suas cidades. Em alguns casos, há até os que engolem o choro mesmo estando insatisfeitos.

Não se faz mais líderes como antes. (Por: Gustavo Almeida)

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