Diplomata revela ter visto deputados furtando talheres de embaixada do Brasil

O jantar foi oferecido nesta sala do Palacio Errazuriz Urmeneta, e depois os deputados fizeram o “arrastão”.

Seria engraçada, não fosse indigna, a cena de um grupo de deputados brasileiros enchendo os bolsos de talheres e charutos, após um jantar na residência do embaixador do Brasil em Santiago do Chile.

O grupo de parlamentares era liderado pelo deputado Fernando Gasparian (MDB-SP), que, aliás, homem sério, não participou do “arrastão”.

O flagrante do diplomata Miguel Gustavo de Paiva foi descrito por ele mesmo no artigo “Ladrões na embaixada”, na série com suas memórias que tem escrito para o Diário do Poder.

Ele trabalhava na embaixada do Brasil em Santiago do Chile, na ocasião, e foi designado pelo então embaixador Jorge Ribeiro a acompanhar a comitiva de parlamentares brasileiros.

Miguel Gustavo.

‘Arrastão’ na embaixada
Os deputados foram à capital chilena para um Forum em defesa da democracia e contra a ditadura do general Augusto Pinochet.

Dessa comitiva fazia parte inclusive um deputado da Bahia, militante de esquerda, do tipo falastrão, não identificado no artigo de Miguel Gustavo, que chegou a Santiago declarando ter ido ao Chile fazer Pinochet “sair de quatro do Palácio de La Moneda”, a sede do governo local.

O embaixador ofereceu jantar de boas-vindas aos deputados e, ao final da recepção, Miguel Gustavo procurou cada um dos membros da comitiva para ajustar a agenda do dia seguinte, no evento que os levou a Santiago às custas dos pagadores de impostos no Brasil.

Miguel não conseguiu esconder seu espanto quando flagrou os deputados enchendo os bolsos de objetos como talheres e até charutos adquiridos pelo embaixador do próprio bolso. “Não deram a mínima quando viram que eu vi”, testemunha Miguel Gustavo.

Os deputados somente saíram em disparada, porta a fora, quando viram o jovem diplomata, após flagrar o “arrastão”, caminhando apressadamente para denunciar ao embaixador Jorge Ribeiro que havia deputados furtando seus pertences.

A sede da embaixada do Brasil.

Tiros e bombas
Em novo artigo para o Diário do Poder, sob o título “Tiros e bombas em Santiago”, Miguel Gustavo de Paiva Torres dá sequência aos acontecimentos em Santiago do Chile, com a presença dos deputados federais brasileiros ligados à esquerda.

O Forum que levou os deputados a Santiago seria realizado no dia seguinte ao jantar em que eles furtaram talheres e charutos do embaixador. Marcado para um hotel, o evento mal começava quando houve um apagão e o local foi invadido por um grupo de agentes da polícia política de Pinochet, sob a alegação de que era necessário “proteger” os políticos de vários países que participavam do Forum. Os policiais informaram inclusive que havia uma bomba plantada no local e por isso todos deveriam abandoná-lo imediatamente

“Todos ficaram apavorados, inclusive eu, claro”, recorda Miguel Gustavo, e o Fórum contra a ditadura “foi desativado juntamente com a suposta bomba”.

“Borrados de medo, muitos parlamentares queriam regressar imediatamente ao Brasil”, diz o diplomata. Inclusive o deputado valentão que prometera fazer o general Pinochet “sair de quatro do Palácio de La Moneda”.

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