(*)Por: Fernando Gomes
Dona Zulmira foi uma verdadeira santa entre nós. Sua vida, dedicada a servir os mais necessitados, é uma história de amor, compaixão e resiliência. Em meio às adversidades, ela encontrou no trabalho social sua missão divina, dedicando-se incansavelmente a transformar a realidade de prostitutas, presidiários e crianças carentes de Parnaíba, no Piauí.
Sua obra mais significativa, a Fundação Ninho, tornou-se um verdadeiro refúgio para aqueles que a sociedade marginalizou e desamparou. Sob sua liderança, o “Ninho” foi um espaço de acolhimento e renascimento, onde vidas destruídas pela violência, pelo abandono e pela exclusão social encontraram um novo começo. O trabalho de Dona Zulmira com as prostitutas era particularmente revolucionário, pois, em vez de julgamento, ela oferecia apoio, capacitação e esperança. Por meio de oficinas, terapia e programas de reintegração, essas mulheres podiam vislumbrar um futuro fora das ruas.
Da mesma forma, os presidiários encontravam na Fundação Ninho uma segunda chance. Dona Zulmira acreditava profundamente no poder da redenção e da educação. Através de programas de reabilitação, ela ajudava esses homens e mulheres a reconquistar sua dignidade e a se preparar para uma vida longe do crime. O resultado foi impressionante: muitos que passaram pelo Ninho saíram transformados, prontos para reescrever suas histórias.
As crianças carentes também foram beneficiadas pelo trabalho de Dona Zulmira. Sabendo que a educação é a chave para quebrar o ciclo da pobreza, ela organizava aulas, atividades recreativas e programas de alimentação, garantindo que essas crianças tivessem a oportunidade de um futuro melhor. Para Dona Zulmira, cada sorriso infantil era uma vitória, um sinal de que seu trabalho estava deixando marcas profundas e duradouras.
Seu legado, no entanto, vai além dos números e estatísticas. “O Ninho não ficou vazio” de Terezinha Oliveira (uma amiga da família) registra esta saga e é mais do que uma metáfora para o impacto de Dona Zulmira. Mesmo após sua partida, a Fundação Ninho continua a prosperar, alimentada pelo espírito de serviço e amor que ela cultivou ao longo dos anos. O trabalho iniciado por ela perpetua-se através dos voluntários, dos colaboradores e de todos aqueles que, tocados por sua luz, decidiram seguir seus passos.
Em Parnaíba, Dona Zulmira não foi apenas uma figura de caridade; ela foi um símbolo de esperança. Sua história é uma prova de que o amor pode transformar vidas, e que a verdadeira santidade reside naqueles que, como ela, dedicam-se incansavelmente a servir os outros. As sementes que plantou floresceram em tantas vidas, e sua memória continua viva, não apenas no Ninho, mas em cada coração que ela tocou.
O amor de Dona Zulmira não ficou esquecido. Em cada esquina de Parnaíba, em cada criança que sorri, em cada mulher e homem que encontraram uma nova chance, seu legado permanece forte. Dona Zulmira foi, sem dúvida, uma santa em vida, e sua história continua a inspirar gerações.
(*) Fernando Gomes, sociólogo, doutorando em Relações Interculturais.