Por Arnaldo Eugênio, doutor em antropologia
No Brasil, à medida em que se aproximam as convenções partidárias – que definirão as candidaturas políticas – e, principalmente, os rumos das eleições municipais, muitas pesquisas eleitorais registradas e outras não registradas são divulgadas, com o objetivo de “seduzir”, “encantar” e “induzir” o voto do eleitor.
As primeiras são feitas por institutos de pesquisas com credenciais mostradas pelos meios de comunicação de massa e as segundas pelo boca a boca popular e a “rádio calçada” – aqui usada como sinônimo de roda de conversa entre amigos nos mercados públicos, nas mesas de bares, nas feiras, nos cafés de shoppings centers ou de supermercados –, que funcionam como uma forma de sociabilidade e tentativa de manipular a opinião pública, pois não há parâmetros para confirmar a veracidade dos fatos.
A “pesquisa de mesa de bar” é uma análise de senso comum, “inventada” e divulgada por grupos de partidários, asseclas e aliados políticos para que, intencionalmente, interfira na vontade popular e na escolha de candidatos nas eleições. Esse tipo de pesquisa ocorre com mais frequência, em cidades de pequeno e médio poste. Mas, existe, também, em cidades mais populosas e em capitais. Isto significa que é um fato social mais comum do que se imagina.
A “pesquisa de mesa de bar” existe de modo oficioso, pois não se sustenta em dados coletados e analisados, mas em achismos e disse-me-disse, buscando condicionar o eleitorado que se deixa emprenhar pela “rádio calçada”. Esse tipo de pesquisa não prima pela lisura ou honestidade, mas pelos interesses daqueles que usam da trapaça para se promover eleitoralmente.
Por um lado, as pesquisas oficiais, registradas e realizadas por instituições especializadas buscam fazer um retrato fidedigno da realidade local. Por outro lado, a “pesquisa de mesa de bar” não tem responsabilidade política ou social nem é crime, pois se trata de fofoquismo, onde um grupo de pessoas “cria” uma mentira de que o “candidato A” está à frente do “candidato B” nas pesquisas, com o intuito de adulterar a realidade.
O principal objetivo da “pesquisa de mesa de bar” é manipular a intenção de voto do eleitor, usando a fofoca como elemento básico de comunicação. Os que acreditam na “pesquisa de mesa de bar” são os mesmos que creem na máxima de que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade” – frase de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista.
Apesar de tentar sabotar a intenção de votos dos eleitores menos críticos, a “pesquisa de mesa de bar” não é um crime eleitoral, mas é uma prática imoral. Pois, aqueles que se utilizam desse artifício pretendem conduzir os rumos das eleições municipais para os interesses de determinado grupo político, persuadindo o eleitorado por meio de uma sucessão de intrigas, boatarias e falatórios.
A “pesquisa de mesa de bar” está mais para um “entretenimento etílico” feito de boca a boca do que para os aspectos mais profundos e realistas dos fatos políticos locais. O “marketing de boca a boca” é o principal instrumento da “pesquisa de mesa de bar”, pois a maioria dos interlocutores são acríticos. Com isso, fica mais fácil de disseminar na cidade uma mentira política, se utilizando do disse-me-disse.
Enfim, a “pesquisa de mesa de bar” tem relação com o “analfabeto político” – as pessoas que não se interessam, não pesquisam, não se informam e não participam como se espera da política. Porém, em muitas cidades do país, o efeito danoso da mentira política através da “pesquisa de mesa de bar” só não é maior, devido ao aumento crescente de formadores de opinião nativos, e que não se deixam cooptar. (pensarpiaui)