Falta de aula não incomoda mais a praticamente ninguém

Por:Zózimo Tavares
Há uns anos, o desembargador Brandão de Carvalho, num gesto de indignação cívica, ameaçou interditar uma estrada do Piauí, essa que liga Teresina a Barras. A rodovia estava intrafegável, especialmente no trecho José de Freitas Cabeceiras, só recuperado recentemente, pelo governo Wilson Martins. O desembargador foi aplaudido pelo seu gesto.
É uma pena que o tema educação, embora cantado em prosa e verso como prioridade de todos os governos, não sensibilize tanto quanto outros de nossa vida cotidiana. Infelizmente, é assim: faltou remédio, o promotor está batendo na porta da Justiça, para forçar a compra do medicamento; apareceu um buraco na pista, todos reclamam; faltou energia elétrica, a gritaria é geral… E por aí vai. Briga-se até por desfile de escola de samba. Mas, faltou aula na escola pública, todos se calam!
As escolas da rede estadual de ensino ainda não tiveram um dia de aula este ano por dois motivos. Primeiro, por causa de uma “greve branca” do próprio governo, que não abriu as escolas. Segundo, em razão de uma greve dos professores, deflagrada na segunda-feira, data do início do ano letivo, como forma de pressão pelo pagamento do novo piso da categoria.
O fato é que milhares de alunos matriculados na rede estadual de ensino ainda não tiveram uma só aula este ano. E todos que não temos filhos matriculados na escola pública – autoridades, políticos, empresários, jornalistas e até mesmo professores da própria rede oficial – encaramos a situação como a coisa mais normal do mundo. O governo, principalmente, pois não é cobrado para pôr as escolas em funcionamento. Nem sofre qualquer sanção por tamanho descaso.
Reza a lenda que o caminho natural de todo governador é o Senado. O Piauí não quebrou a tradição. E, para confirmá-la, existe ainda a “Lei Joel Silva”, lançada há alguns anos na Pioneira pelo radialista Joel Silva.
Essa “lei” diz que, no Piauí, para o governador chegar ao Senado, basta que ele tenha uma greve na educação. Foi assim com Alberto Silva; foi assim com Freitas Neto; foi assim também com Mão Santa; e foi assim, ainda, com Wellington Dias, só para citar os mais recentes.
Por essa “lei”, então, o caminho do governador Wilson Martins para o Senado já está aberto.   

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