

Hoje um feroz opositor do ex-cabo-eleitoral, FHC declara-se chocado. “Clamávamos também contra indícios de corrupção. Não poderíamos imaginar que depois das greves de São Bernardo e das Diretas Já, as mesmas distorções seriam praticadas por alguns que então as combatiam. Criticava-se tanto o nepotismo e o compadrio, a falta de profissionalismo na administração e de transparência nas decisões […]. As proezas de cinismo e leniência praticadas por alguns dos personagens que apareciam como heróis-salvadores são chocantes.”
Com uma ponta de ironia, FHC evocou o bordão do “eu não sabia”, que persegue Lula desde 2005, ano em que o mensalão virou escândalo. “Dá lástima ver hoje uns e outros confundidos na corte de dúbios personagens que alegam nada saber dos malfeitos.”
FHC atribui parte de sua “melancolia e revolta” à prostração do Legislativo e dos partidos políticos. A despeito do alegado desânimo, FHC afirmou no artigo que “é preciso bradar e mostrar indignação e revolta, ainda que pouco se consiga de prático.” Apoiou-se no brocardo: “Não há bem que sempre dure nem mal que não acabe. Chegará o momento, como chegou nos anos 1980, em que, com toda a aparência de poder, o sistema fará água.”
Nas palavras de FHC, “há espaço para novas pregações”. Ele próprio se pergunta: “Novas ilusões?” E responde: “Quem sabe. Mas sem elas, é a rotina do já visto, das malfeitorias e dos ‘não sei, não vi, não me comprometo”. (Do blog de Josias de Souza)