Idoso, famoso e abandonado

Por: Benedito Gomes
(*)
Conhece alguém assim? Acredito que não. Às vezes você
pode até conhecer, ver diariamente e nem percebe que ali está alguém que
prestou um relevante serviço à nossa cidade; que pelos seus corredores, pelas
suas salas, sentados em suas cadeiras, milhares de jovens, durante muitos anos,
diariamente chegavam ali vestidos de azul e branco, uniforme oficial, dispostos
a receber os ensinamentos que lhes eram transmitidos pelos grandes mestres da
época. Sabem de quem estou falando? Não vou dizer e também não estou sendo
indelicado. Quero que você saiba, exatamente, como está escrito na página 158
do livro “Centenário de Parnaíba”:
“Grupo Escolar
Miranda Osório
Fundado em Abril de 1922, foi o primeiro
estabelecimento de caráter público, instituído no Município. Recebeu esta
denominação em homenagem ao grande vulto piauiense, natural de Oeiras, José
Francisco de Miranda Osório.
Instituído o Grupo, sua primeira Diretora foi a
Professora D. Raquel de Carvalho Magalhães, cujas funções exerceu com
operosidade e dedicação, até maio de 1942.
Em 1944, assume a diretoria, a Professora Maria Da
Penha Fonte, e tinha sobre seu comando os seguintes professores:
Professoras: Raquel de Carvalho Magalhães, Benedita
Boavista Cunha Barros, Clarisse Burlamaqui Oliveira, Julia Pinheiro Castelo
Branco, Elda Furtado de Araújo, Maria Luiza Sampaio Pires de Castro, Maria
Elisa Sampaio Soares, Maria Edite Sales, Delfina Borralho Boavista, Maria do
Carmo Monteiro Sampaio, Afrina Avelino da Cunha, Cléa Furtado de Araújo,
Beatriz Carvalho Veiga, Maria Monteiro Sampaio, Maria Magnólia Melo e Filomena
Lima Custódio.”
Entrei no Mirando Osório 45 depois de sua inauguração,
em 1967 já com o nome de Colégio Estadual Lima Rebelo. Eu e mais vinte e cinco
a trinta colegas, rapazes e moças, chegamos lá no dia primeiro de março,
preparados para cursar o primeiro ano do científico.
Fomos nos conhecendo, todos alegres e felizes, afinal,
fazer o científico no Colégio Estadual naquela época era o desejo dos bons
estudantes. A
história, a beleza, a limpeza do prédio impressionava.
Pintura nova nas grades, portas, janelas e paredes. O piso era de tábua, o
chamado assoalho, sempre encerado e polido por mãos hábeis de zeladores competentes.
Sabem quem era o diretor naquele ano? O jovem professor,
Alexandre Alves de Oliveira. Firme em suas decisões, seguro nas aulas que
ministrava, aliás, muito competente. Na mesma época conheci ali os grandes
mestres, José Rodrigues, Leónidas Melo, August Bauer, Eduardo Lopes, Pedrosa e
Professora Rosinha. Tempo de ouro do Colégio Estadual.
O abandono
Prédio construído na década de 20

Anos após anos, a educação pública no Brasil, no Piauí
e em Parnaíba, foi sentindo os efeitos das desastrosas administrações de nossos
governantes. A educação foi jogada para o último plano: professores mal
remunerados, escolas mal equipadas, ambiente de trabalho aquém do desejado. Não
é preciso ir longe: bem aqui, no inicio da Avenida Presidente Vargas, está o
grupo escolar Mirando Osório, um retrato desbotado e que representa muito bem o
abandono da educação no Brasil. Ali está um pedaço da história educacional de
Parnaíba, hoje apenas um corpo sujo, com ferrugem em suas grades, ferrolhos e
dobradiças, reboco caindo, pintura desbotada e corroída pela ação do tempo. É
um corpo com cicatrizes quase sem vida. À noite, envolvido pela escuridão, fica
quase invisível aos olhos transeuntes. Se existe alguma luz em seu interior,
foi deixada pela sabedoria daqueles que por ali passaram, ensinando ou
aprendendo.

Se você lembrar que naquele prédio funcionou o Ginásio
Parnaibano, o Colégio Estadual Lima Rebelo, a primeira Diretoria Regional da
Educação, a Faculdade de Direito e um Anexo do Juizado Especial, você verá que
ai está um histórico de educação, cultura e justiça. Pedindo socorro por se
sentir sozinho no meio de muitos, sendo apenas “ Um idoso, famoso e abandonado”
(*)Benedito Gomes
Contador UFPI.

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