Não adianta Robinho ser condenado a nove anos e ficar livre no Brasil

Por Nina Lemos, colunista, no Universa

“Estou rindo porque não estou nem aí.” A frase de Robinho, dita em uma das gravações de conversas entre ele e seus amigos após estuprarem uma mulher em uma boate na Itália, é um bom resumo de como muitos homens e, infelizmente, parte da sociedade brasileira tratam a violência contra as mulheres.

Abusar ou mesmo estuprar é algo visto como uma coisa normal, corriqueira. Algo que acontece e que pode ser justificado com expressões misóginas do estilo “essa mulher não presta” (como se eles, criminosos, prestassem) ou “ela provocou” (como se existisse no mundo alguém que pedisse para ser vítima de um crime terrível desses).

Em alguns lugares do mundo, a violência contra a mulher é menos banalizada. A justiça italiana, por exemplo, provou hoje que leva acusação de estupro a sério ao condenar Robinho e seu companheiro Ricardo Falco a nove anos de prisão. Se o jogador continuasse morando na Europa, ele seria preso nos próximos dias. Todos os recursos foram esgotados. Fim.

Segundo reportagem do UOL, os magistrados não ficaram contentes com o fato de a defesa de Robinho ter tentado culpar a vítima. Ou seja, a tese de que a mulher não presta não colou. Melhor assim.

Esta sentença devia ser a norma e poderia servir de inspiração para países como o Brasil.

Como o sistema judicial brasileiro pode mostrar que aprendeu a lição? Executando a sentença da justiça italiana e prendendo Robinho. Esse seria um recado de que o país se importa quando o assunto é violência contra a mulher.

Sim, isso pode acontecer. Ele não pode ser extraditado, mas, segundo juristas, o governo italiano pode pedir que a prisão seja cumprida no Brasil. Se a condenação for homologada pela Justiça brasileira, já que o crime também existe aqui, ele cumpre a pena. Mas esse processo pode levar anos.

Os advogados do jogador, apesar da sentença, continuam confiantes. Ainda segundo o UOL Esporte, eles acham que é “quase impossível que Robinho seja obrigado a cumprir a sentença no Brasil”.

A condenação italiana deverá, segundo os defensores, no máximo levar ao início de um novo processo no Brasil, onde as provas serão novamente objeto de contraditório e ampla defesa.

Que tal?

Infelizmente, eles não estão errados de pensar assim. É difícil que homens poderosos sejam presos por crimes contra a mulher. E, quando presos, eles dificilmente cumprem a pena completa.

Se isso se confirmar, será uma prova muito séria de como o Brasil, como o próprio Robinho, “não está nem aí” para crimes contra a mulher. Sejam elas brasileiras ou não.

Mesmo internacionalmente [o caso Robinho é notícia no mundo todo] não pega nada bem que um homem que praticou um crime desses fique livre, de boa e rico em sua terra natal.

Mas, claro, pegar mal é o de menos. O sério mesmo é pensar que um homem pode participar de um estupro coletivo e rir disso, certo de que passará impune.

Nós, mulheres, temos obrigação de pedir que a sentença contra Robinho se cumpra. Seria um passo importante para todas nós.

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