O ‘X’ vermelho da questão – Uma homenagem a Itamar Franco

                                                         
Lembro de um dos episódios mais indiscretos envolvendo o então presidente Itamar Franco. No carnaval de 1994 o político foi fotografado ao lado da modelo Lílian Ramos. O detalhe é que ela estava vestida em uma camisa. E só! Por baixo, a cabeluda vergonha estava desprotegida. Prato cheio para os fotojornalistas, que eternizaram o momento.

Nessa época eu era um ingênuo menino do sertão do Piauí. Aquela imagem estampada nas páginas da revista Veja me impactou. Como podia, alguém ficar com o bibiu à fresca assim, no meio de todo mundo, ao lado do presidente da república? 

Mas não foi a sem vergoisse do Itamar que me frustrou. Aquele maldito “X” vermelho tampando a dita cuja da moça é que me indignava. Iniciando minhas atividades clandestinas nos banheiros da vida, considerei aquilo uma covardia dos infernos. 

Na verdade, um atentado democrático. Isso é que era. Se os fotógrafos puderam ver, se o presidente ficou tão perto, porque a revista negou isso a um menino de 10 anos? Sou brasileiro, merecia ver também. 

Numa tentativa desesperada de ver o melhor ângulo da Lílian Rios, peguei a Veja, uma borracha e me tranquei no banheiro. Apaguei, apaguei até o “X” vermelho dar lugar a uma bola branca. Insisti, persisti, até que a página rasgou.

Frustrado e envergonhado, guardei a revista e não dei um pio sobre o assunto até hoje, quando achei por bem revelá-lo. Não pude homenagear Lílian Rios, mas nada me impede de render tributos ao único presidente brasileiro que já me causou inveja.
Rômulo Maia

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