Enquanto a grande maioria da população tem dificuldades de acesso a serviços básicos, alguns ricos e poderosos políticos só querem saber de “espaços”.
Na segunda-feira, 7 de outubro, dia seguinte às eleições municipais, boa parte da classe política do Piauí comentava o resultado das urnas e já falava sobre as eleições de 2026. Desde que Silvio Mendes (União) impôs uma doída derrota ao grande bloco montado pelo governador Rafael Fonteles (PT) em Teresina, o assunto principal de políticos e de parte da mídia é o pleito de daqui a dois anos.
É natural que se faça projeções e que se fale sobre os desdobramentos do pleito de agora e seus reflexos para o pleito de 2026. Contudo, não se pode achar normal que a classe política de um estado tão pobre e cheio de problemas como o Piauí só trate de campanha eleitoral o tempo inteiro. Não se pode admitir que uma parcela considerável dos políticos não faça outra coisa que não seja as negociatas visando eleição.
Vemos, diariamente, barões e bem-nascidos da elite política do Piauí empreendendo esforços para ganhar mais espaços no poder público e em composições partidárias, articulando para viabilizar candidaturas de parentes, se reunindo em busca de mais cargos para aliados e gastando tempo na mídia apenas para falar de eleição.
Enquanto a grande maioria da população tem dificuldades para ter acesso a serviços básicos, alguns ricos e poderosos só querem saber de “espaços” no poder público.
Vivemos em um estado que ainda não conseguiu superar problemas históricos, onde sertanejos têm dificuldade para ter água e onde os índices de analfabetismo são os maiores do Brasil. Um povo que ao longo dos tempos foi ludibriado com falsas promessas de redenção como a do “petróleo verde” (aquele que seria oriundo da mamona) e onde a promessa do hidrogênio verde é, por enquanto, apenas uma miragem.
Os chamados “novos nomes” da política do Piauí são, via de regra, apenas uma nova roupagem dos velhos que fizeram carreira na política. Raros são os novos nas ideias, na criação de soluções e no pensamento progressista. A grande verdade é que os “novos” que muitos – inclusive a imprensa – consideram como promissores na política do Piauí são aqueles que se destacam nas negociatas, na articulação à base da “estrutura” e na capacidade de reunir em torno de si um grupo que lhe sirva de instrumento para barganhar mais poder.
Quais as ideias inovadoras apresentadas pelos deputados jovens do Piauí? Nenhuma. Quais as ações de relevância social desenvolvidas pelos jovens políticos eleitos no Piauí nos últimos anos? Nenhuma. Ao longo dos últimos 10 ou 15 anos, o Piauí elegeu muitos nomes novos, mas quase nenhum deles empreendeu algum esforço para mudar a realidade política arcaica e pouco resolutiva que o estado tem. Nenhum deles teve a preocupação de mergulhar de verdade nos graves problemas estruturais e socioeconômicos do estado.
Alguns jovens deputados da política do Piauí só são promissores quando o assunto é negociata e capacidade de buscar cargos e espaços. Para isso, são vangloriados como “políticos natos”. Mas, quando se trata da política como instrumento de transformação do estado e da vida das pessoas, esses ditos “feras” da política não passam de parasitas que se servem da vida pública para ampliar seus privilégios e manter o poder de suas famílias. Por isso vivem tão ansiosos, o tempo inteiro, para tratar sempre da eleição seguinte.(Gustavo Almeida)