O abuso do poder político e econômico foi normalizado e se gabar de “estrutura” para ganhar eleição virou motivo de orgulho.
Quem senta para conversar com políticos, mesmo alguns já tarimbados, ouve relatos de que está cada vez mais difícil disputar eleições. A compra de votos – que nunca foi novidade – está em um nível jamais visto. O abuso do poder político e econômico foi normalizado e se gabar que tem “estrutura” para ganhar eleição virou motivo de orgulho. O uso desenfreado da máquina pública (nesse caso para quem está no poder ou ligado a ele) também atingiu nível desavergonhado e é tratado como “normal”.
Nem mesmo a imprensa condena aquilo que deveria condenar. Em vez de adotar um tom crítico sobre determinadas condutas políticas, muitos profissionais de mídia fazem análises como se tais condutas fossem legais e normais. O abuso do poder político e econômico não deveria, jamais, ser tratado como trunfo de um candidato ou de um partido. Ilegalidades podem ser comuns, mas não devem ser normais. Comum não é o mesmo que normal. Uma doença pode ser comum, mas segue sendo doença. E se é doença, não é normal.
Se até para os políticos milionários e tradicionais a disputa de eleição ficou difícil, imagine para um cidadão que tem pouco dinheiro. Se para os desonestos e “espertos” as disputas eleitorais estão complicadas devido à grande concorrência com sujeitos do mesmo tipo, imagine para quem faz as coisas corretas. Não se trata, aqui, de sonhar com a utopia de eleições 100% limpas e com candidatos santos ou metidos a santos, afinal, isso não existe. Porém, o que não pode ser normalizado é essa política que se transformou num esgoto onde praticamente só os espertos têm vez e raros são os que agem diferente.
Nesse contexto, a Justiça Eleitoral tem fracassado vergonhosamente. Num País onde os compadrios de bastidores ditam os rumos e também são normalizados, o poder que deveria garantir pelo menos minimamente a lisura e o equilíbrio do processo eleitoral assiste aos abusos de forma quase inerte. Os crimes acontecem aos montes e os órgãos fiscalizadores pouco ou quase nada fazem para coibir. Os discursos bonitos de membros do Judiciário falando sobre “eleições limpas”, “lisura” e “festa da democracia” não se sustentam na prática.
Por falar em democracia, a naturalização do “poder das estruturas” e a banalização dos abusos nas eleições se configura muito mais um atentado à democracia do que uma pedra que um fanático baderneiro atira contra a sede de um poder.
Diante da omissão da Justiça Eleitoral e da certeza dos poderosos de que a “estrutura” fala mais alto em uma disputa eleitoral, os bons estão cada vez mais longe da política e incrédulos com a atividade pública. É cada vez menor a quantidade dos que resistem ao atropelamento provocado pelas grandes estruturas. Esse processo foi sendo construído ao longo dos últimos anos e pouco ou quase nada foi feito para contê-lo. E a tendência, pelo que se vê, é piorar cada vez mais. Bom para os ruins, ruim para os bons.(Por: GustavO Almeida)