Dia desses, faz pouco mais de oito dias, fiz uma viagem rápida pra fora de Parnaíba. Fui a convite de uma amiga conhecer Paulino Neves, no Maranhão. É lugar que ainda faz parte das cidades maranhenses aqui pertinho que mandam sua gente todo dia pras bandas de cá em busca de resolver essas coisas de médicos, compras, estudos, aposentadoria e pensões, diabo a quatro.
Paulino Neves é outra coisa. É outro pano. Nem lembra com a Tutóia, Araioses e São Bernardo, onde até parece que ninguém ainda se acordou a uma hora da tarde. Me chamou a atenção seu comércio. Uma rua, a Paulo Ramos, movimentada de dar gosto. Muita casa de material de construção, lanchonetes, pequenas mercearias, lojas de variedades. Ali pelo visto está correndo dinheiro de turismo e de duas usinas de energia eólica
Tem até um boteco tipo pé sujo, o Bar Água na Boca. Som tipo Reginaldo Rossi e Adelino Nascimento, a todo pano e aquela rapaziada lá dentro e na porta com cara de quem passou a noite virando bicho. Ao lado de uma funerária, Funerária Reviver. Calcule só. Funerária com nome de reviver. Andando um pouco mais, acabei dando de cara com uma loja do Paraíba. Por que todo lugar tem que ter uma loja do Paraíba?
Nem que seja com apenas uma porta, um gerente e um vendedor de cara bem feia. Mas me impressionou mesmo foi o serviço de transportes. São caminhonetes Toyota, adaptadas, cabines abertas. Os mototaxistas, e nesse ponto estão melhores do que os de Parnaíba, andam em cima de quadriciclos. Mas eu nunca vi cidade no mundo pra ter mais Hillux do que Paulino Neves.
Mas tem loja do Paraíba. Como também tem Apae, tem uma academia de ginástica, a World Fitness Academy. Assim mesmo, em inglês. Mas não encontrei nada que lembrasse sua história, uma estátua, edifício antigo, uma igreja antiga. Procurei como quem procura a porta do céu, uma loja, mercearia, bodega, banca de revista que fosse, que vendesse alguma peça de artesanato. Encontrei não.
Mas tem loja do Paraíba. E uma agência minúscula do Bradesco, uma Secretaria de Turismo Sustentável, uma biblioteca, com nome da professora Maria José dos Reis. Como toda cidade que tem apenas uma rua ou avenida e sendo de comércio, me lembrou muito Tóquio, com todos aqueles letreiros. Bancas de peixes no meio da rua e bancas de DVDs piratas. Tudo pertinho.
Tem duas pontes. Uma de madeira, velha e sem proteção lateral, proibida à passagem pra carros e motos. A outra, de concreto, novinha em folha sobre o silencioso rio Novo, tem passarelas pra pedestres. Aliás, o rio Novo me lembrou muito as Filipinas e a indonésia. Aquela cor da água azulada e a vegetação muito densa. Todo mundo ou quase todo mundo em Paulino Neves mora em sobrado. Acho até que lá todo mundo gosta ou se faz de rico.
Tive necessidade de comprar um par de pilhas pra minha câmera fotográfica. No supermercado, pequeno e cheio de toda sorte de tranqueiras, a moça do caixa tinha no ombro um papagaio que falava. Mas foi na Praça José Rodrigues da Penha, o Zeca Penha, que deve ter sido alguém muito importante, inaugurada no dia de Natal de 1999 pelo prefeito Josemar Oliveira Vieira, que encontrei e guardo uma das melhores impressões de minha viagem, um cachorro vigiando São Sebastião, que está amarrado e quase nu dentro de uma caixa de vidro.* Pádua Marques é jornalista e escritor. Fotos do autor.