A saúde pública de Parnaíba virou objeto de um extintor de incêndio que ninguém pediu, mas custou quase R$ 4 milhões. O Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI) encontrou, em auditoria, um pacote de contratos emergenciais assinados pela prefeitura para compra de medicamentos, insumos hospitalares, material odontológico e fórmulas especiais. Emergência? O que o Tribunal detectou não foi urgência sanitária, e sim urgência em contratar sem transparência. Segundo os auditores, não havia falta comprovada de estoque, nem risco iminente à saúde coletiva.

A “emergência” teria sido criada artificialmente, abrindo caminho para contratações sem licitação. Mais grave: algumas empresas contratadas estariam ligadas ao mesmo grupo que já aparece em investigações por possíveis organizações criminosas na gestão de contratos públicos da saúde. O caso chamou atenção da CGU e da Polícia Federal, que se somaram às apurações. Quando três esferas de controle se unem, ou o caso é grave, ou é gravíssimo. Em Parnaíba, os indícios caminham para a segunda hipótese. O silêncio oficial da Prefeitura só aumenta o barulho.
O mínimo que se espera é explicação documentada não coletiva de imprensa com frases prontas. O TCE já apontou indícios; a PF e a CGU já observaram o cenário. Falta agora a Prefeitura parar de empurrar o bisturi para debaixo do pano e explicar como uma emergência de saúde virou emergência para a fila de contratos. Por enquanto, o quadro clínico da gestão é preocupante: dor crônica no setor de licitações e febre alta de suspeitas. Se não tratar agora, vira UTI jurídica. (Encarando/Silas Freire)