Ao longo de mais de um ano, vimos escancarados abusos, comícios disfarçados e uma série de outras situações.
Termina nesta segunda-feira (5) o prazo para partidos políticos realizarem convenções e homologarem candidaturas a prefeito, vice-prefeito e vereador. Já está chegando ao fim também o período da chamada pré-campanha, lorota que se instituiu legalmente para que políticos estejam em campanha antecipada e tenham o argumento de que não é. No próximo dia 16 começa aquilo que, para a Justiça Eleitoral, é campanha, como se tudo visto até aqui não fosse.
Ao longo de mais de um ano, vimos escancarados abusos, comícios disfarçados com o nome de “evento de organização do processo eleitoral” e uma série de outras situações. Pré-candidatos (que não podem ser chamados de candidatos) fazem tudo que candidatos fazem. Na verdade, até o que candidatos não deveriam fazer.
Não podem pedir votos, mas pedem apoio, pedem para o povo “abraçar o projeto”, pedem para as pessoas lhes darem “a oportunidade de governar”. Numa comparação tosca, é como se um homem quisesse ficar com uma moça, mas não pudesse falar em claras palavras. Contudo, pode chamá-la para “uma saída a sós durante a noite”.
Nas convenções partidárias, os abusos se seguiram de norte a sul do Piauí. As recomendações do insosso MP Eleitoral e da Justiça Eleitoral são tratadas com desdém por políticos que sabem que compensa abusar da lei porque o custo-benefício é positivo. A imagem de uma convenção lotada, independentemente de como se construiu a lotação, se sobrepõe ao prejuízo bobo de eventuais multas ou pequenas sanções impostas pela Justiça, quando elas existem.
Não bastasse ter eleições de dois em dois anos, o que é nocivo ao País, a libertinagem das pré-campanhas faz com que algumas regiões do Brasil vivam o tempo inteiro em campanha. No Piauí, onde o debate eleitoral é claramente mais provinciano do que na maioria dos outros estados, essa situação é ainda mais agravada. Por aqui, aparentemente, tudo pode! (Gustavo Almeida)