Por:
Pádua Marques(*)
É o que pode um dia, que espero ser breve e eu ainda
esteja aqui pra ver e contar mais na frente, da Parnaíba ter seu dia de sala de
visitas do Piauí. Porque desde que me entendo por gente e aqui estou há vinte
anos, que acompanho os altos e baixos desta cidade. Tanto do ponto de vista
econômico e social quanto do ponto de vista político. E olhe que faz um bom
tempo que acompanho este vai e vem da sala pra cozinha. E como diz o ditado, à
cozinha nunca se pede opinião.
Os governos piauienses, bom que se diga e pra mim não
há exceções, têm tratado a Parnaíba com aquele ar de deboche, desprezo e de humilhação
como dona de pensão ou de restaurante de beira de estrada trata o pessoal do pé
do fogão. Quando quer uma coisa, vem até a porta e sem o menor constrangimento,
no grito, passa a exigir este ou aquele prato com apuro e algo mais. Agora pra
trazer o que a cozinha pede, são outros quinhentos.
Não faz, é ameaçado de ser mandado embora. Da cozinha
sempre se exige acima do possível. É, segundo os novatos, o pior lugar de um hotel,
pensão ou estabelecimento do gênero. Tudo que dá errado a culpa é da cozinha. Se
o cliente acha o feijão ou o bife salgado demais, a reclamação vai direto,
assim, direto e reto feito mão na cara, pro pessoal “lá de dentro”. É como se
chama cozinha na linguagem dos graduados e pós graduados nas ciências das
panelas.
Igual naquela casa onde o dono sai e não deixa nada.
A mulher com a mão na cabeça com uma récova de meninos, cada qual mais feio e doente
e quando este ordinário volta ainda exige certas regalias. É assim como os
parnaibanos têm sido tratados pelos sucessivos governos. Uma cozinha de quem se
exige muito, mas se dá e deixa pouco. Muito pouco tem sido dado pra nós. Como é
que pode desenvolver uma terra e sua gente que não tem um gato pra puxar pelo
rabo?
“PARNAÍBA,TERRA QUERIDA!”
Mas voltando pra cozinha atrás de um caneco d’água
me vem de novo à mente essa situação da Parnaíba atualmente. Quando a dona da
pensão quer fazer bonito na frente das visitas ou de um cliente importante ou
de burra cheia acha de dar gritos na criadagem. É um entra e sai com isso e
mais aquilo. Mas Parnaíba, essa cozinha do Piauí na beira do Oceano Atlântico,
bem que merece ter seu dia de sala de visitas.
Cadeiras e mesas lustradas, guardanapos muito brancos
e engomados, umas flores nos jarros. Igual em casa de menino que faz a primeira
comunhão. E nós estamos esperando este momento faz um bom tempo. Estamos
esperando esta ZPE assim como estamos esperando uma resposta pra esse pesadelo
centenário do porto de Amarração, os aviões da Azul cheios de turistas, mais
atividades que puxem nossa economia pra cima.
É este momento de cozinha virar sala de visitas a
que estou me referindo desde este início de conversa. É este aceno que está
vindo da cozinha do Piauí, esta cozinha na beira do rio e perto do mar que está
pedindo mais alguma coisa. Precisamos de mais investimentos públicos pra que os
investimentos privados sejam atraídos. Precisamos que nossa cozinha seja limpa
pra que o visitante se sinta bem passando dentro dela ou até mesmo quando
convidar alguém pra elogiar pelo prato que comeu. Precisamos mandar alguém lá
pra sala de visitas fazer e falar bonito das nossas habilidades.
Tenho certeza que se um dia desses, um momento desses,
quando menos se espere, as panelas estarão na sala de visitas. E a gente ali na
frente da televisão, com os pés em cima do sofá, sem a menor cerimônia puxando
conversa com aqueles irmãos que ficaram. Igual quando a gente casa e de vez em
quando vai à casa da mãe filar uma comidinha se fazendo de besta, de
desentendido. É essa desenvoltura que desejo que tenhamos nós parnaibanos um
dia desses, tanto em Teresina quanto em Brasília.
“PARNAÍBA, FILHA DO SOL DO EQUADOR”!
E como seria bom se um dia desses a visita nos desse
a honra de chegar até essa nossa cozinha. Entendesse e visse nossas
necessidades; um fogão novo, desses de oito bocas, um armário pra colocar os
trens, uma mesa bem maior e mais resistente, facas, facões, cutelos, conchas,
tachos, uma frigideira maior, uma chaleira bem grandona, dessas de casa de
gente ignorante. Mas o Piauí ao que parece só vai à sua cozinha de passagem, acompanhando
a dona da casa ou da pensão, sem ao menos olhar pra criadagem que tanto se
esforçou pra dar ao prato do dia aquele sabor especial.
A gente quer agora que a visita da dona da pensão
nos veja com outros olhos. Na cozinha trabalha e até mora gente. Gente de carne
e osso. Gente que trabalha desde o raiar do dia. Gente que, se alguém duvidar,
até acorda antes do galo. Mas o dono da fazenda tem de entender que na cozinha
tem gente. É hora de levar as cadeiras da sala pra cozinha porque é lá na
cozinha que a conversa é boa. Nós parnaibanos precisamos ser ouvidos. Essa
coisa de separação, de Tia Nastácia lá e dona Benta cá, de apartheid já acabou
faz tempo.
(*)Pádua
Marques é jornalista e escritor
EDIÇÃO:BERNARDO SILVA
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