Complexo de vira-lata

Por Arthur Cunha – especial para o blog

O jornalista Kennedy Alencar chamou de “complexo de vira-lata” a postura de subserviência do presidente Jair Bolsonaro em relação ao equivalente norte-americano, Donald Trump – a expressão foi cunhada por Nelson Rodrigues para designar a posição de inferioridade que o próprio brasileiro se submete. Acertou na mosca! Mais uma vez Bolsonaro deu mostras de que não faz ideia do tamanho do cargo que exerce. Sua viagem aos Estados Unidos foi outra prova cabal disso.

A tour na terra do Tio Sam começou com Bolsonaro tecendo loas a Olavo de Carvalho, guru-mor da Direita brasileira e do próprio bolsonarismo (se é que podemos dizer que existe um), e a Steve Bannon, estrategista-chefe da Casa Branca demitido por Trump ainda em 2017. Nunca antes na história deste país um “pensador” e um “agente do caos” foram tão venerados por um presidente da República. Em seguida, tivemos Bolsonaro e sua comitiva fazendo uma visita escondida a uma agência de espionagem. Sim, é isso que a famosa CIA é no final das contas. Esqueça os filmes, eles foram responsáveis por golpes de estado e torturas.

Depois, o nosso nobre presidente assinou um decreto autorizando turistas norte-americanos e de outros países a entrarem sem visto no Brasil. Eu te pergunto: Trump fez o mesmo? Não preciso nem responder… Mas tem quem argumente que o presidente de lá foi bonzinho ao defender a entrada do Brasil na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Só que para isso nós teremos de abrir mão de participar da lista de países com tratamento diferenciado na Organização Mundial de Comércio.

Por fim, “coroando” a visita, tivemos o encontro entre os dois chefes de Estado das maiores democracias das Américas. A cara do nosso presidente na foto acima diz tudo. Bolsonaro se comportou como um deslumbrado, um borra-botas. Deixou claro que será um capacho de Trump na política externa do Brasil. E voltou para casa envaidecido como muito pouca coisa na bagagem em troca. Oh, boy!

“Carne e unha…” – Essa idolatria toda de Bolsonaro por Trump tem uma explicação até psicológica. Os dois se parecem muito. São frutos de uma guinada à direita no cenário político mundial, sem, necessariamente, terem sido ícones desse pensamento. São rasos, seus governos estão perdidos e eles nutrem uma necessidade quase patológica pela polêmica. Na verdade, se alimentam de brigas – foi assim que construíram as suas respectivas eleições, e dessa forma conduzem as suas presidências.

“… almas gêmeas” – Ambos vivem às turras com a Imprensa, a quem tratam como “inimigos da nação”. Sua comunicação tem como base as redes sociais, notadamente o Twitter. Aliás, quanta besteira os dois presidentes falam no microblog! Transpondo para o “pernambuquês”, Bolsonaro e Trump são dois papangus que deram certo. Best Friends Forever, a dupla BolsoTrump segue à frente das duas maiores potências das Américas; mais unidos do que nunca. “Carne e unha, almas gêmeas”, como diria Fábio Júnior.

Venezuela – Entre as baboseiras proferidas por Jair Bolsonaro nas vezes em que usou o microfone durante sua viagem aos Estados Unidos, estiveram presentes temas como o não à ideologia de gênero e a luta contra o avanço do socialismo. Se fosse só isso… O problema é que Bolsonaro sinalizou que pode apoiar os Estados Unidos, inclusive com homens, em uma eventual intervenção na Venezuela. Em janeiro, o próprio Bolsonaro havia descartado essa possibilidade.

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