DE ACORDO COM A LEI (Da Gravidade)

Por: Benedito Gomes(*)
Vou falar um pouco de Lagoa do Portinho e peço perdão, afinal, este assunto foi tão explorado nos últimos dias e
sem nenhuma solução! 
Também, não sei porque, ali discutindo só tinha homens de renomado
conhecimento: tinha biólogo, advogado, tinha especialistas em meio ambiente, enfim, só fera. E como não sou da área, vou tratar o assunto pelo lado prático.
Essa
história que as águas correm para o mar, existe desde que o mundo é mundo. E acho que assim continuará por mais milhões de anos. 
Eu ainda muito pequeno
ouvia meu pai conversando com amigos e sempre ele dizia que a coisa difícil de
combater é água de morro abaixo e fogo de morro acima. Isto quer dizer que fogo
não queima pra baixo e água não corre pra cima. Também nos anos 50
o cantor Luiz Gonzaga tornou nacionalmente conhecido um riacho do interior de
pernambuco, através de uma música, cujo primeiro verso é assim: “riacho do
navio, corre pro pajeú, o rio pajeú vai despejar no São Francisco e Rio São Francisco vai bater no meio do mar”….
isso ai é sequencia, pequenos afluentes
se juntam, formam rio e deságuam no oceano. Com o rio portinho é a mesma coisa.
A lagoa do Portinho até 1971, 72 ou 73, era um verdadeiro paraíso de beleza natural,
cercada de matas por todos os lados. Ai chega o asfalto e só se ouvia elogios
do mais belo ponto turístico do nosso litoral. 
Há 40 anos você ficava de frente
para a lagoa e via as dunas bem distantes. No centro havia uma casinha de palha
e à direita uma verdadeira floresta, árvores de grande porte, verdes, bonitas, que hoje estão cobertas de areia. As dunas que chegaram até o asfalto, vieram do
processo natural, trazidas pela força do vento,  sendo que  as dunas que estão atrás da
lagoa porque não passaram, o vento é o mesmo: movimenta a areia e esta cai
dentro da água, dai o assoreamento,  tanto que o portinho há 30 anos tinha 08 a 10
metros de profundidade e hoje mesmo enchendo não chega a 05 metros. 
O rio
portinho continua da lagoa até chegar no mangue. Em determinada época, ali era
um verdadeiro riacho, com água correndo da lagoa para o mar e as famosas curimatãs
do Portinho eram pegas em quantidade. E sabem porque isso
aconteceu? Em 1974 houve uma das maiores enchentes do rio Parnaíba. Bairro São José alagado, Bairro do Carmo e comunidades ribeirinhas também.
O ria igaraçu
subiu aproximadamente 06 metros acima do seu nível normal. Com a variação da
maré, lá na foz, talvez chegasse a 08 metros. Ao mesmo tempo, com o inverno
rigoroso naquele ano, a lagoa do Portinho também encheu acima do normal e
transformou a ligação com o mangue em um verdadeiro rio, com mais de 01 metro
de profundidade e 10 metros de largura. Ai, sim, ficou o que chamamos jogo de
empurra.
 Quando a maré enchia, com a pressão muito grande, a água corria para
lagoa; a maré baixava, tudo voltava ao normal, lagoa / mar. Com o fim do inverno
o rio portinho ficou correndo normalmente. Em 1974 o nível do rio era o mesmo
da lagoa, não havia dunas, era apenas um riacho cercado de mato.
A surpresa: recentemente corria pela cidade a noticia que estavam abrindo um canal para
encher a lagoa via maré. Dia 07 de abril seria a maior maré do ano e através do
canal a lagoa ficaria cheia. Amigos meus foram até assistir este espetáculo da
natureza e voltaram cabisbaixos, pois a pouca água que tinha no canal era da
chuva e corria exatamente pro mar. Um dos visitantes chegou a dizer: “só se
houver um dilúvio pra lagoa encher através do canal”. Na quarta feira, dia 13, estive
lá, e vi a lagoa do maceió, que foi invadida pelo canal, está exatamente
correndo para o mar.
Amigos, o que
estou escrevendo aqui, não é lenda, não é fábula, não é sonho. Não li no livro
de ninguém. Eu simplesmente conheço a Lagoa do Portinho há 45 anos. Ali deve
ser respeitada a natureza e a lei da gravidade, que diz, no seu primeiro e único artigo:a água nunca correrá pra cima.
(*)Benedito Gomes
Contador (UFPI)

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