ENTREVISTA: Ex-vereador Zé Lima contra atrelamento de vereador a prefeitos por portarias

O ex-vereador José de Lima e Silva concedeu entrevista ao Blog do B. Silva, falando de sua trajetória política ao longo de 7 mandatos de vereador; sua convivência com outros ex-vereadores, como Custódio Amorim e Gerardo (Cearence) Ponte Cavalcante, que chegou aos 9 mandatos legislativos. “Eram dois homens (Custódio e Gerardo) íntegros, apesar da pouca instrução. Hoje não frequento mais a Câmara. Observo de longe. Acho que ela deixa muito a desejar porque você não vê ninguém se destacar. Me parece que todo mundo é igual(…)”. Zé Lima também contesta o vereador que se atrela ao prefeito em troca de portarias. Acompanhe os principais trechos da entrevista:

BlogdobsilvaZé Lima, na sua opinião, do seu tempo para cá, melhorou o nível do Poder Legislativo de Parnaíba?

Zé Lima: Eu tive a felicidade de conviver com pessoas que a cidade toda conhece e conheceu. Eram pessoas íntegras, pessoas respeitadas e pessoas que tinham palavra. Não se usava o toma lá dá cá. Eram homens que se destacavam na cidade pela honestidade, pelo modo de ser, como pais de família e como cidadãos. Além de Custódia e Gerardo Cerense tive a oportunidade de conviver com Arimateia Carvalho, jornalista e grande vereador. Trabalhei com Doutor Valdir Aragão, Dr. Ariosto, Danilo Carvalho, todas essas pessoas com nome e família respeitadas. Hoje não frequento a Câmara. Eu acompanho de muito longe. Acho que ela deixa muito a desejar, porque você não vê ninguém se destacar me parece que todo mundo igual. Não tem ninguém que se destaque e faça oposição realmente”.

Blogdobsilva: Ter ou ser oposição é importante?

Zé Lima: Sempre achei benéfica a oposição, porque ajuda o governo a governar. Citando os erros do atual governo para que o governo se toque e faça o exame de consciência onde está acertando e errando. Mas se todos baterem palma…Já disseram que  unanimidade é burra. Se todos bateram palma, o prefeito vai achar que tudo vai bem e que não tem nada a corrigir; que a cidade está bem administrada, limpa, com a educação e a saúde funcionando… é o que deixa transparecer quando ninguém fala e todos se calam. Então não tenho muito a dizer, mas tenho minhas restrições. Não quero criticar a Câmara porque tenho amigos lá dentro, que me respeitam. Dos meus 7 mandatos que eu tive naquela casa, o que me orgulha é ter passado 28 anos e não ter deixado uma mancha, um ato que desabone a minha conduta. Minha família certamente terá orgulho do que eu fui no passado como vereador de Parnaíba.

BlogdobsilvaNesses 28 anos de Câmara, o que você destacaria, o que você deixou como legado?

Zé Lima: Comecei quando a cidade era ainda muito pequena. Fui vereador no ano de 1970, e a cidade acabava ali na rua Tabajara. Dali era mato e tinha corrida de cavalos. Nós não éramos renumerados. Cidade pequena, com orçamento pequeno. A Câmara tinha que fazer lei, fiscalizar o executivo. Só que a câmara não tem poder nenhum de decisão. Hoje tem emenda impositiva que no meu tempo não tinha. Nós vivíamos fazendo requerimentos, pedindo ao prefeito que fizesse calçamento no bairro tal, para atender os eleitores da gente e era uma dificuldade muito grande. Tanto eu e como outros que passaram não conseguíamos muitas coisas como hoje eles têm oportunidade. Não tínhamos verba de gabinete. Hoje você tem uma emenda para fazer um grupo. Hoje tem verba de gabinete que você pode fazer despesas, porque hoje 70%  do repasse da prefeitura para câmara vai para folha e 30 para serviços. No meu tempo não tinha isso. Éramos muito pobres com relação aos vereadores de hoje. Era a prefeitura que mandava pegar na casa de cada vereador, no carro da prefeitura, para a gente não ter despesas de deslocamento até a câmara municipal. Hoje Tem no orçamento na câmara para correspondência, transporte, assessores tudo isso existe. O meu legado é ter passado tantos anos na câmara municipal, e não ter um ato que eu tenha feito que desabone minha conduta e o meu nome.

BlogdobsilvaVocê voltaria a se candidatar novamente a vereador?

Zé Lima: Não voltaria porque não tem sentido. O que tinha vontade de ser era prefeito e a fidelidade que eu tinha aos Moraes Souza era tanta que não tinha coragem de chutar o balde e ser candidato. Era sempre alguém da família. O único que não foi da família foi Zé Hamilton, apoiado por eles. Até o hoje Zé Hamilton dá o troco ao Mão Santa, por ele não ter prestigiado os amigos. Tinha eu, Valdir Aragão, Geraldo Cearense, Arimateia Carvalho, que morreu no acidente de carro.. Terminou apoiando Zé Hamilton e até hoje tem sido o seu calcanhar de Aquiles

Blogdobsilva; Com sua experiência, o que você aconselharia aos novos, que pretendem se candidatar?

Zé Lima: O político tem que ser autêntico e não pode se alienar ao prefeito. Ele tem votar naquilo que é correto e sempre se pronunciar no que ele acha incorreto. Estar em sintonia com povo. É isso que povo quer. Mas, infelizmente, a política virou profissão, um meio de ficar rico, quando você deveria estar ali para servir e representar sua comunidade, seu bairro… Mas também, por outro lado, hoje o povo se vende por uma cesta básica, bolsa família que não vale nada, é apenas um paliativo que não dá para uma colocar seu filho na escola para no futuro ela saiba votar e seja um cidadão.

BlogdobsilvaE o vereador que se atrela ao prefeito em troca de portarias?

Zé Lima: NA verdade o eleitor quando vota no vereador ele espera independência de opinião e até independência financeira, porque todos eles ganham bem. O vereador tem que se atrela ao prefeito para ganhar portarias, para beneficiar os eleitores, não é correto.Antigamente não existia isso. O pior meio de fazer política é com portaria. Se o prefeito der 20 cargos, 20 portarias, o vereador só agrada esses 20. E se você foi eleito com 2 mil votos? No dia que essa pessoa perder o emprego, você também perde o voto da pessoa que perdeu a portaria. E perde o voto da família toda. A pior política é essa do empreguismo. O vereador tem utilizar seus próprios recursos. já que ele é bem pago.

Entrevista exclusiva aos jornalistas Bernardo Silva e Camila Neto

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