Por:Mário Rogério(*)
Todo mundo estranhou a rapidez com que o procurador de Justiça Emir Maia e família foram soltos. Afinal, no final da semana o CNJ divulgou que os juízes do Piauí ganham bem – 95% deles acima do teto nacional do funcionalismo público, graças a penduricalhos implantados nos contracheques – e trabalham pouco – têm a segunda pior produtividade no Brasil. Menos de 24 horas depois da prisão. Na tubada.
Há uma questão no Piauí que precisa ser estudada com mais profundidade para se entender isso. É o compadrio. Nos orgulha quando aparece o resultado dos testes de avaliação das escolas de ensino médio do país e três ou quatro de nossas escolas aparecem muito bem ranqueadas. Dom Barreto, Santa Maria Gorete, Diocesano e por aí vai. Eu mesmo, no meu programa na Difusora, comemoro com muito ufanismo.
Ocorre que, como tudo na vida, tem seu lado positivo e negativo. Essas escolas formam a elite educacional do estado e entre elas e as demais, com raríssimas exceções, há um fosso gigantesco e intransponível. É nestas escolas que estudam os filhos dos empresários bem sucedidos, dos profissionais liberais mais respeitados e da elite do funcionalismo público.
Crianças que serão os juízes, os deputados, os médicos, os procuradores, os advogados, os empresários, os conselheiros, enfim, a elite do estado. E, naturalmente, essa convivência comum leva a relacionamentos mais sérios no futuro, com os filhos dos desembargadores casando com as filhas dos conselheiros, por exemplo, criando laços familiares que entrelaçam os membros dessa elite de forma que se cria uma grande família com ramificações em toda esfera do poder.
E como não aumentam o número de escolas de qualidade, a nova geração vai apenas substituir a anterior ou mesmo compartilhar as esferas de poder.
Logo, cria-se um círculo vicioso muito parecido com a monarquia. Os rebentos já têm destino certo. É fato que após a Constituição de 88 foi criado um empecilho, o concurso, que de vez em quando permite que um plebeu invada o espaço, mas é aí que as escolas de excelência têm seu papel.
Somente a melhoria da qualidade do ensino da escola pública pode acabar com esta prática monárquica dentro da República. E como isso não vai acontecer tão cedo, até pelo interesse desta elite para não perder seu quinhão, essa situação vai perdurar ainda por décadas.
Só para arrematar: Emir Maia tem raízes em três clãs que há décadas têm seu quinhão dentro do orçamento do estado e até do país: os Martins, os Eulálio e os Maia.
(*)Mário Rogério é diretor-presidente da Rádio Difusora de Teresina
e do Jornal “Tribuna do Litoral” (Parnaíba)