Lagoa do Bebedouro sempre perene: Por que será?

Por:Benedito Gomes(*)
O Piauí, mesmo estando
situado no Nordeste, região caracteristicamente seca, é um grande possuidor de
águas. Temos rios, açudes e lagoas de norte a sul do estado.
Nos últimos anos a
falta de chuvas fez com que nossos reservatórios tivessem seus volumes de água
reduzidos e alguns até secaram. A maior lagoa do estado do Piauí é a de
Parnaguá. Mesmo com milhões de metros cúbicos de água, quase seca em 2015. O
Lago do Sobradinho, em Luís Correia, que está apenas a 10 quilômetros da nossa Lagoa do Portinho, também está agonizando e a solução para ambos virá através
de um grande inverno. Ideias mirabolantes não levarão a nada.
Aqui em Parnaíba,
dentro da cidade, temos a Lagoa do Bebedouro. Mantém o mesmo volume de água no
inverno e no verão, desde 1961. Por que não seca como os demais reservatórios? O
clima é o mesmo, a densidade pluviométrica a mesma, o vento também, e o nível
da água é o de sempre, o mesmo.
Já ouvimos diversas
histórias sobre este fenômeno. Dizem que são grandes olhos d’água, um grande
minador, uma mãe d’água lá no centro e etc…Vamos então encarar o assunto de
frente:

Na década de 50 a lagoa era apenas um grande
baixão, cercado de mato. No Bairro Catavento, hoje São Vicente de Paulo, eram
poucas as residências, em ruas arenosas e sítios de cajueiros. Entrando à direita,
depois da Cooperativa Delta, por uma estrada de muita areia, chegava-se onde
hoje é o Conjunto Broder Viller. Tinha neste meio um pequeno riacho que hoje está
seco devido o desmatamento. Desta pequena estrada até onde hoje é a av. Batista
Silva havia uma verdadeira floresta, com
imbaúba, mata-pasto, pimpão, capim, olhos d’água e muita lama. A cada 15 dias
as marés altas represavam no rio igaruçu, a lagoa enchia e três dias depois
estava seca. Isso aconteceu até 1960, e sabem por quê?

Em 1958 foi eleito governador do Piauí, o
parnaibano Francisco das Chagas Caldas Rodrigues e para Prefeito de Parnaíba
foi eleito seu irmão,  José Alexandre
Caldas Rodrigues. Naqueles anos, sair do centro de Parnaíba era enfrentar
tremendo areal. Pois os irmãos Rodrigues meteram calçamento de Parnaíba à Luis
Correia; de Parnaíba a Buriti dos Lopes; e de Buriti à  Barra do Longá. E  o que tem a ver  isso com a Lagoa do Bebedouro? Calma!

Lá em frente o povoado
Rosápolis, na beira do Rio Parnaíba, havia uma grande cerâmica. Chamava-se
Fábrica “Cortez” produtora de Telha Marselha, entre a atual Av. José de Morais
Correia e o povoado acima. Era uma estrada difícil de se trafegar. Então
governador autorizou o calçamento desta via de mais de quatro quilômetros. A
oba foi entregue à Construtora Atalaia, tendo como engenheiro Dr. Benedito Raimundo
Pereira. Um pequeno detalhe: o rio a que me refiro começa ali nas proximidades
da Lagoa da Prata, passa por trás do Parque de Exposições, na ponte de madeira
do Tabuleiro. Passa a 30 metros da lagoa, faz uma curva, passa na ponte da Cobrasil
e desemboca no ria Igaraçu, no antigo porto dos Tucuns.

Tudo pronto para a obra
começar. O grande desafio era o aterro da lagoa com quatro metros de alturas e
a dificuldade de transporte na época. Mas quando atingiu um metro e meio de
altura, Dr. Benedito procurou o local mais próximo do rio, em um pequeno trecho
de cinco metros faz um aterro reforçado, com cobertura de cimento, deixou a
ligação lagoa/rio. Em poucos meses com as mares altas a lagoa encheu, a água
ficou represada na altura do aterro e continua com o mesmo nível há cinquenta e
cinco anos. Quando você vê a lagoa muito cheia, na verdade quem está cheio é o rio. Estive
em dois pontos extremos da lagoa. Está linda! Uma bela vegetação aquática, uma
pequena floreste de taboa, uma atração turística sem igual, utilizando os olhos
apenas para vê-la e o coração para amá-la. Nossa lagoa é um verdadeiro espetáculo
da natureza!

(*)Benedito Gomes
Contador(UFPI)

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.