‘Moleques’ e ‘vagabundos’, diz prefeito de Parnaíba, Mão Santa, sobre profissionais de enfermagem em greve

Por Caroline Oliveira, g1 PI

Prefeito Mão Santa (DEM), de Parnaíba, chama grevistas de enfermagem de 'vagabundos'
Prefeito Mão Santa (DEM), de Parnaíba, chama grevistas de enfermagem de ‘vagabundos’
O prefeito de ParnaíbaMão Santa (DEM), chamou os profissionais da enfermagem, em greve, de “moleques” e “vagabundos”, ao informar que irá cortar o ponto daqueles que continuarem o movimento paredista. As declarações foram dadas durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (26), em seu gabinete, no Litoral do Piauí.
 
A greve da categoria iniciou no dia 10 de novembro, depois que os profissionais fizeram paralisações de advertência sobre o corte da gratificação de combate à Covid-19. E foi encerrada nesta sexta-feira, depois que o Sindicato dos Servidores do Município (Sindserm) foi notificado da ilegalidade da greve pelo Tribunal de Justiça do Piauí.
 
“Não tem greve nenhuma, tem uns moleques, uns vagabundo. Tá tudo funcionando. Quem não quer trabalhar, vou cortar. Onde está a greve? O governo é muito forte. Eles viviam aqui gritando, esculhambando. Cadê, você viu algum grito agora?”, declarou o prefeito Mão Santa.
Em nota, a Superintendência Municipal de Comunicação de Parnaíba informou que o prefeito se referiu “exclusivamente aos servidores que não cumprem seus expedientes como deveriam” e que não faz referência direta aos servidores da saúde. No entanto, na mesma nota, diz que a greve foi declarada ilegal e que caso não cumpram a decisão terão os pontos cortados.
 

O presidente do Sindserm Leandro Lopes, repudiou a fala do gestor municipal e disse que os servidores preparam um ato de repúdio. Ele disse que os profissionais retornaram ao trabalho, depois de doarem sangue como última manifestação em protesto à falta de acordo com a prefeitura.

“Hoje, no último instante da greve, antes de ser suspensa, nós fizemos uma doação de sangue, quando fomos surpreendidos pela coletiva do prefeito, que chamou os profissionais de saúde de vagabundos, arruaceiros e baderneiros, e isso provocou uma grande comoção no município, principalmente nos servidores da saúde, mas também todos os servidores públicos de Parnaíba. O Sindserm prepara um grande ato em repúdio às falas do prefeito Mão Santa. A gente até diz que o sindicato e os profissionais têm respeito pelo prefeito, pela idade dele e não pela postura como prefeito municipal, por isso queremos cobrar mais do que nunca respeito e valorização”, afirmou.

De acordo com Sindicato dos Servidores Municipais de Parnaíba, o movimento paredista teve 70% de adesão, já que 30% deveria continuar trabalhando por ser um serviço essencial. O município possui 100 profissionais de enfermagem e 50 de odontologia que haviam aderido à greve na última terça-feira (24).

Servidores da Enfermagem ficaram em greve por 15 dias em Parnaíba — Foto: Sindserm Parnaíba

Servidores da Enfermagem ficaram em greve por 15 dias em Parnaíba — Foto: Sindserm Parnaíba

A categoria luta por três pautas imediatas que é o retorno da gratificação de combate à Covid-19 e o pagamento para quem não recebia; a recomposição salarial constando na Lei Orçamentária Anual (LOA) que será votada no próximo mês na Câmara Municipal e que não está no projeto; e a reformulação do plano de cargos, carreiras e vencimentos dos profissionais da saúde.

“Então das três pautas uma seria para agora e as outras duas para janeiro de 2022. Infelizmente a gestão optou por judicializar a greve e eles utilizaram a questão da Covid, e a categoria justamente se baseia nisso para manter a gratificação”, argumentou o sindicalista, que vai recorrer da decisão do desembargador Raimundo Eufrásio, do TJ-PI.

O magistrado determinou multa que varia de R$ 10 mil até R$ 100 mil por dia de paralisação caso a decisão não fosse cumprida. Para o desembargador, o perigo da demora na paralisação dos servidores pode gerar um prejuízo irreparável pelo fato da saúde ser um direito básico garantido a todo cidadão.

Repúdio do Coren-PI

O Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren-PI) repudiou as declarações do prefeito sobre os profissionais da enfermagem. Em nota, o Conselho destacou que o direito à greve é constitucional e a importância dos profissionais durante a pandemia.

A entidade também ressaltou que as reivindicações dos profissionais são válidas e que irão tomar medidas cabíveis já que não aceita “desvalorização e desrespeito à categoria”.

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.