Por: Pádua Marques
Não foi aqui por perto, mas bem que poderia ter sido. Digo daquele terrível incêndio dia 1º de maio, Dia do Trabalho, no início da madrugada no centro de São Paulo. Um cortiço, desses que se multiplicam feito cogumelos nas grandes cidades e onde moram milhares de pessoas e de famílias. Famílias miseráveis, de gente sem emprego formal, vindas de tudo quanto é canto e que vive igual bicho bruto dentro de carroceria de caminhão, uns por cima dos outros, na maior promiscuidade.
Nesses cortiços, iguais a esse do incêndio de São Paulo, se alguém tiver coragem de entrar, certamente vai sair com outra visão de mundo e de pobreza. Portas feitas de papelão ou de caixotes, varais cheios de cuecas de pedreiros, chambres de velhas, cueiros de meninos com cara de fome e querendo peito.
Uns mais lá na frente fazendo churrasco e bebendo cachaça, fumando maconha ou crack. Uns mais adiante assistindo televisão o dia inteiro. Homens, mulheres, crianças e até mocinhas dormindo na mesma cama ou o que se pode chamar de cama. É mais um edifício que pegou fogo e levou pra debaixo do chão e transformou em cinzas todos os poucos pertences dessas famílias, desses moradores de rua que ocupam algum canto procurando abrigo na hora de dormir e que no outro dia vão à procura do que fazer.
Nesses escombros em que se transformou tudo naquela madrugada, alguém pode encontrar camisas do Corinthians ou do Palmeiras, copos de plástico, panelas, televisão, geladeira, fogão, enfim, tudo o que pobre junta tão logo pega em dinheiro pra ir passando.
A população de rua, de desvalidos, miseráveis, de gente com pouca ou nenhuma ocupação, anda crescendo nas cidades, sejam grandes ou médias. Pobreza não escolhe cara, geografia e nem nacionalidade. Pobreza judia de gente e faz gente sofrer. Podemos imaginar a situação dessas pessoas e famílias, nesse exato momento. Com a mão na cabeça sem qualquer referência de quem foram, são e de onde vieram. É bom que as prefeituras, inclusive Parnaíba, passem a olhar com olhos de prudência pra essas ameaças de ocorrência e situações.
Estes moradores de rua que estão se transformando numa caixa de problemas pra os programas de assistência social, alguns deles, senão a maioria tem histórico de delinquência, desajustes sociais em maior ou menor grau. Ninguém nesses cortiços e tendo vida de dificuldades, pelo que se sabe, saiu de um convento ou está querendo ir pra um.
Mas não seja por isso que nós cidadãos, que temos todo dia, casa, comida pra comer, televisão pra assistir a novela e cama pra dormir, vamos apontar o dedo e discriminar fechando as portas da nossa sensibilidade. Portanto, vamos ficar atentos. Hoje foi São Paulo. Amanhã pode ser o Rio de Janeiro. Depois pode ser outra cidade. Necessário que os órgãos de assistência social fiquem atentos porque na hora que a labareda de fogo vem no rumo de um, pega quem está na frente e não escolhe cara e nem religião.
(*) Pádua Marques – jornalista e escritor