Por: Fernando Gomes(*)
A pandemia da COVID-19 está modificando as relações humanas. Traz consigo algo que foi tão negado pela sociedade do consumo, um sentimento que o mundo vinha perdendo um pouco… de reflexão sobre o vazio, sobre o correr do tempo. Tempo para olhar para si mesmo e para o outro. E, do lado mais sombrio e perverso da doença: a morte! Essa sempre nos assustou a todos.
Aos que sobreviverão, incertezas sobre o futuro. Quais as consequências do pós COVID-19? Muitos pregam que a morte virá muito mais pelas razões econômicas que da própria doença. O debate é promovido e alimenta interesses escusos. A miséria, que hoje “preocupa” essa gente, é um problema brasileiro de séculos. A sua existência não é só uma obviedade, mas se intensificou nos últimos 40 anos!
Há uma polarização ideológica com debates superficiais distante do que interessa ao conjunto da sociedade, especialmente aos mais desprotegidos. Dizer que brasileiros vão morrer de fome em razão da crise econômica arrastada somente pela pandemia é desconhecer as raízes sobre o fato de que as injustiças no país não são apenas econômicas, mas também oriundas de uma forte carga simbólica, em geral associada ao passado escravocrata, que reforça e naturaliza as diferenças sociais brasileiras. Nossa grande “chaga” é a desigualdade social promovida pela corrupção. Essa sim mata milhares de pessoas, diariamente.
Se o país é desigual, maior é o fosso piauiense, exposto ao desafio histórico de enfrentar uma herança de injustiça social que exclui parte significativa de sua população do acesso a condições mínimas de dignidade e cidadania. E tome discurso, demagogia barata e jeito de bom moço! Em voga a quarta versão!
Mas a quem interessa essa realidade desigual? Isso é estratégia de dominação! Precisamos falar claro, primeiro para dizer que nem o Brasil, nem o Piauí são pobres, mas um país e um estado com muitos pobres. Em segundo lugar, que os elevados níveis de pobreza são oriundos da perversa desigualdade na distribuição da renda e das oportunidades de inclusão econômica e social. É o modelo de gestão corrupta determinante maior da pobreza? Ou incompetência administrativa mesmo? Ou as duas somadas?
As epidemias sempre estiveram à nossa porta. Como exemplo, a dengue desde 2002 que já matou milhares de brasileiros. O que está no lastro da disseminação da dengue é a falta de saneamento básico e as péssimas condições de vida humana. O que foi feito de lá até aqui no governo federal e no plano estadual?
O Brasil, em especial o Piauí, lida com uma epidemia real: a corrupção. Esta desvela como nunca o país e o estado desigual e injusto que habitamos. E, não é de hoje! Atentai bem!
A pandemia da COVID-19 escancarou o que o povo piauiense já sabia: a corrupção aqui é endêmica! Até numa hora difícil como esta os ladrões de plantão e terno e gravata não descansam! Em voga a insana sanha pelo poder, vontade incontrolável pelo apego à matéria e a desonestidade arraigada. Gestores manipulam dados e informações da situação de modo a transparecer que o caos é generalizado (e em alguns locais é), mas o objetivo é passar a ideia de que a situação foge ao controle e é preciso que venham recursos financeiros para o enfrentamento da crise. Aí logo se decreta o “estado de calamidade”, pois este assegura a “legalidade” para comprar/contratar quem quiser, ao preço que quiser.
Oportunismo, ações demagógicas e muita corrupção constituem a face desta forma vil de cuidar do bem público. E, a calamidade serve para o deleite destes insanos. Sem meios termos, a corrupção sistêmica é a raiz de todos os males deste torrão. Dela derivam todos os outros problemas que afligem a terra “filha do sol do Equador”: pobreza, escola sem qualidade, desemprego, representação política sem qualidade, violência, falta de aparelhamento do sistema de saúde pública, dentre outras mazelas.
Pobre Piauí! Tanta indignação nos faz, com constrangimento, concordar com a afirmação de que Wellington Dias é um exemplo desta malvadeza. Sim governador, você é malvado! Cadê a transparência dos atos governamentais? A Secretaria de Saúde fazendo compras desnecessárias, contratação de serviços questionáveis e tudo a preço que causa estranheza no seu valor pago. Não se trata de satanizar o gestor piauiense, mas é preciso que a sociedade acorde e reflita sobre a forma como a sua turma tem cuidado do estado. Em seu quarto mandato, o objetivo maior sempre foi, à frente de qualquer outra intenção, a defesa de um projeto político pessoal. Ele mal assumiu esta gestão e, irresponsavelmente, já entrou em campanha para o Senado 2022! Com extrema competência ele conduz seu “projeto de poder”. Mérito no uso da coisa pública como uma extensão privada do seu bem querer.
Mas, a quem recorremos? Quem deveria fiscalizar os atos do Poder Executivo, papel constitucional, era o Poder Legislativo, mas este caiu na sarjeta. Como fiscalizar um governador que dá cargos e outras vantagens ao fiscal? Os deputados estaduais, na sua quase totalidade, estão do seu lado e não vêm nada de errado na gestão, uma lástima!
Dúvida sobre quem mata mais?!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.