Os caminhoneiros e o macaco que cortou os galhos.

 

Por Pádua Marques.*

Esta desastrosa paralisação de caminhoneiros por dez longos e sofridos dias me faz lembrar aquelas histórias de macaco que a gente quando era criança ouvia à noite contadas pelos mais velhos. Porque se existe bicho mais cheio de marmota e criador de confusão é o camarada macaco. Faz das suas e acaba saltando os galhos como se nada tivesse acontecido e a coisa não fosse com ele.

Contavam as histórias de ponta de calçada naquele tempo em que não havia esta peste de televisão, que o camarada macaco um dia se encontrou muito contrariado com a vida besta que estava levando. Era um tal de saltar pra lá e pra cá, correr por cima dos galhos e mais lá na frente, intimar, procurar briga com os outros. A coisa estava ficando muito sem graça e logo ele, macaco, que todo mundo dava como o animal mais safado da mata.

Olhou pra um lado e pra outro e disse consigo que aquilo não estava certo. Muitos outros animais andavam ganhando suas árvores e dominando os lugares de onde tirava comida. Estava certo aquilo não. Convocou uns camaradas da pesada e depois de uma reunião em cima de uma árvore resolveram causar toda sorte de danos à floresta. Se danaram a cortar os galhos, destruir, tocar fogo nesse e naquele outro pé de pau.

Toda aquele pânico acabou gerando desassossego entre os passarinhos que haviam instalado seus ninhos nas copas das árvores. Os animais como onças, capivaras, tamanduás, tatus e outros como a preguiça acabaram correndo e até morrendo tamanho foi o estrago. Os macacos não se contentando com o mal feito tocaram fogo nas veredas e partes mais baixas.

Sapos, rãs, jacarés e outros bichos de beira de riachos passaram foi baixo com toda aquela situação. Porque no mato uns dependem dos outros. Tanto pra comer, sair de um lugar pra outro quanto, pra cruzarem e assim continuarem vivendo as espécies. Mas os macacos se metendo a espertos não calcularam essas coisas e sentaram a destruir tudo o que encontravam pela frente. Não tinha conversa. Era passar na frente e era queda mais adiante.

Passados alguns dias, uns dez se não erra a conta, e depois de uma forte chuva que de certa forma serviu pra esfriar as cabeças quentes, foram calcular as perdas e os danos. E chegaram à certeza de que as perdas foram maiores que os ganhos pra todos. Tem animal e muito macaco que até hoje nunca mais soube o que é um salto, outros, uma caçada e um banho de rio. Muitos estão no olho da mata, sem um galho pra enrolar o rabo. Macaco é bicho burro.

Assim fizeram os caminhoneiros nestes últimos dez dias. Deram uma de macacos. Deixaram todo mundo no desespero por causa do preço do óleo diesel. Que era coisa mais fácil de resolver se conversando. E não se chegar ao ponto que chegamos. Indústrias, comércio, serviços, meio de transporte parados, se acabando, gente morrendo em hospitais, prejuízos pra todo lado. Eles mesmos vão sentir o desemprego porque as empresas pras quais trabalhavam se acabaram.  Em teme de ter uma guerra civil! Que coisa! * Pádua Marques é jornalista, escritor e membro da Academia Parnaibana de Letras.

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