Por: Benedito
Gomes(*)
A história da seca do Nordeste vem
de muito longe. Segundo alguns historiadores, a primeira aconteceu em 1552,
depois vieram as grandes devastações provocadas pelas secas de 1877 logo em
seguida, ou seja, dez anos depois, veio a grande seca de 1888. Eu era bem
pequeno, talvez com 10 anos, ouvia meus avós, Joana Apolônio e Pedro Branco,
falarem da seca dos “três oito”, como ficou conhecida.
Histórias horripilantes eles contavam
mesmo era da seca de 1915. Esta eles viram com os olhos, viveram na pele,
sentiram no estômago e guardaram na memória por todas as suas vidas. Na época
eram jovens e trabalhavam na fazenda Irapuá, no interior de Luzilândia, hoje
pertence ao Município de Joca Marques.
Imagine a dificuldade da população
fugindo para algum lugar onde tivesse água! Não havia energia elétrica, não
havia veiculo para transporte, as estradas eram apenas grandes veredas e por
elas seguiam os comboios, ou tropas de jumentos e burros transportando o pouco
que dava para aproveitar, que era levado para algum lugar onde tivesse água e
condição de vida. O Ceará era o estado que mais sofria com os grandes períodos
secos, talvez por não ter rios perenes como o Parnaíba, o São Francisco e também não tinha os grandes açudes
atuais como Orós, Castanhão, Araras e outros.

No interior só os grandes
fazendeiros resistiam e permaneciam em suas terras. Os sertanejos pobres
migravam para periferia das grandes cidades. Era tanta gente chegando do sertão
que a principal solução encontrada pelo governo do Ceara foi criar campos de
concentração no entorno de Fortaleza. O maior deles foi o Campo de Alagadiço,
que chegou a abrigar oito mil pessoas. Foi este campo que serviu de cenário
para o romance “O Quinze”, de Raquel de Queiroz.
Muitos escritores, jornalistas,
compositores, poetas, cordelistas e muito mais gente escreveram e continuam
escrevendo até hoje sobre o clima do Nordeste. Muitas músicas foram episódios
da seca Nordestina. A mais famosa delas é “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e
Humberto Teixeira e também a “Triste Partida” de Patativa do Assaré.
Atualmente a seca é a mesma, mas o efeito não é
tão maléfico como nos séculos passados. A meteorologia faz previsão com
antecedência, os meios de comunicação informam com tempo suficiente para providências
serem tomadas, aliás, até o nome não é mais assustador. No nordeste é “estiagem”
e na região sudeste é “crise hídrica”.
Com tanta mudança, vamos também mudar de assunto.
Agora falo do inverno, período de muita chuva, tudo verde, a volta da Asa
Branca. – “Já faz três noites que pro
norte relampeia /AS asa branca ouviu o ronco do trovão / Bateu asa e voltou pro
meu sertão / “ai,ai” eu vou embora vou cuidar da plantação” (Luiz Gonzaga e Zé
Dantas)
No inverno tudo é festa, riachos cheios, floresta
verde, roça plantada, animais gordos, pássaros cantando, é só alegria. Entre
centenas de aves esta nossa Sabiá de Peito Amarelo, canta como ninguém. Mas tem
o hábito de cantar só no período chuvoso, e como os invernos estão curtos ele
está cantando menos. Alguém, que não sei o nome, fez este verso para o nosso
cantador da floresta. Vou transcrever para vocês:
O sabiá no sertão /quando canta me comove/porque tem a tradição de só
cantar quando chove /Passa três meses cantando /e sem cantar passa nove”.
Pode não
ser uma historia bonita, mas é verdadeira.
(*)
Benedito Gomes
Contador
(UFPI)