As coalizões somente devem ser fechadas em julho
Robson Bonin
O Globo
“Neste momento, todo mundo está enganando todo mundo. Ninguém vai anunciar aliança até o prazo final, porque todos querem o acordo mais vantajoso possível”. A frase, com toda a franqueza que as declarações anônimas de político permitem, é do presidente de um dos maiores partidos com representação no Congresso. Ele está metido no grupo de siglas que, dia após dia, ensaia entendimentos em reuniões e jantares na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Em português, claro, o que ele diz é simples. Os partidos, todos interessados em satisfazer interesses particulares, barganham aliança como se estivessem em um mercado público. Na lógica do “quem dá mais”, os entendimentos vão sendo construídos ou destruídos em questão de horas.
APENAS ESPAÇO – O que está na mesa não é o futuro do país, potenciais programas que avancem em determinadas áreas, como saúde e educação, ou a desilusão do eleitorado com a política. O que os caciques decidem é quem vai ocupar o melhor espaço em determinada candidatura, quem vai ter mais recursos para fazer campanha e como os interesses divergentes de cada partido podem ser ajustados para benefício mútuo em eleições regionais.
Com mais de 30 partidos, o sistema político brasileiro tornou-se uma congregação de “donos” de legendas que discutem política muitas vezes com os olhos de empresários, como se os partidos não passassem de negócio, descolados dos interesses da sociedade. Muitas siglas, completamente desconectadas das ruas, servem a interesses menores, como empregar parentes de caciques partidários com gordos salários e a facilitar a vida de seus dirigentes com toda a sorte de luxos.
HELICÓPTERO – Quem não se lembra do presidente de partido (PROS) que comprou um helicóptero com recursos do fundo partidário, só para se deslocar da sua cidade, no entorno do Distrito Federal, até Brasília? Ou os partidos que caíram nas investigações da Procuradoria-Geral da República por terem vendido seu apoio a outros candidatos por muitos milhões de reais?
Nesse feirão de alianças que deve se estender até as convenções de julho, os partidos ganham tempo para poder vender o passe ao preço mais caro possível. Imersos nessa prática, os políticos admitem a lógica da barganha abertamente, como se isso não fosse uma forma de desvirtuamento das discussões ideológicas e pragmáticas que deveriam reger toda tentativa de aliança eleitoral.