Projeto de hidrogênio verde anunciado por Rafael Fonteles é inviável e ignora impactos hídricos

Intitulada “Piauí: fábrica de hidrogênio verde inicia obras com licença que ignora impactos hídricos”, uma ampla reportagem divulgada há cerca de uma semana pelo portal de notícias investigativas “Pública” (www.apublica.org) mostra que o projeto de hidrogênio verde anunciado pelo governador Rafael Fonteles (PT) no Piauí é inviável.

Segundo a matéria, a instalação do que foi divulgado como “maior indústria de hidrogênio verde no mundo” pode estar superdimensionando o real impacto socioambiental do empreendimento. É um alerta feito por diversos especialistas de órgãos ambientais, com atuação e conhecimento não apenas no Piauí, mas em todo o Brasil.

Imagem divulgada pelo “Pública” mostra o projeto (Foto: Reprodução)

Trecho da reportagem: “O primeiro atalho envolve a captação de água do rio Parnaíba, essencial para viabilizar a produção do hidrogênio verde. Para cada quilo desse elemento químico, são necessários nove litros de água. Por isso, o projeto prevê a captação de 3.800 m3 por hora e 91 milhões e 200 mil litros de água por dia do rio Parnaíba. Como cada m³ equivale a mil litros. Um volume cinco vezes superior ao consumido pelo município de Parnaíba, cidade com 162 mil habitantes, que vai partilhar a mesma fonte hídrica com o empreendimento”.

A matéria é assinada pelas jornalistas Adriana Amâncio e Tânia Martins e mostra que esse volume de água a ser captado no rio Parnaíba, curso hídrico federal que fica dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, não foi incluído no licenciamento ambiental. Fala da analista Ambiental do ICMBio no Piauí, Luciana Machado: “A Solatio colocou que a planta da indústria será apenas na ZPE [Zona de Processamento e Exportação]”. A empresa espanhola Solatio é a responsável pela obra no Piauí, já tendo 120 empreendimentos de energia solar na Europa.

Ainda de acordo com o conteúdo, o projeto foi travado financeiramente por um dos fundos que investem centenas de bilhões de dólares no setor de energia renovável: “Seus projetos na América Latina, onde é considerada a maior empreendedora, são avaliados em bilhões de dólares. Entre seus financiadores/investidores estão fundos soberanos, que investem centenas de bilhões de dólares no setor de energia renovável. Um desses fundos, ligado à empresa ACWA Power, líder em geração de energia, dessalinização de água e hidrogênio verde, localizada em Riade, na Arábia, travou negociações com o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT)”.

Vale ressaltar, aponta a reportagem, que a estrutura que deverá transportar o hidrogênio verde na forma de amônia até o local de exportação, deve medir cerca de 20 km e passará por dentro da APA (Área de Proteção Ambiental). E Luciana Machado informou que isso foi excluído da autorização ambiental que viabilizaria o projeto, além da falta de pedido de autorização do ICMbio para a emissão das licenças. Segundo ela, o Governo do Estado alega que vai realizar o licenciamento das atividades ainda não autorizados enquanto estiver em operação. “Você acha que o Estado vai negar um empreendimento que tem investimento de R$ 30 bilhões?”, questionou Luciana à reportagem do “Pública”. (Efrém Ribeiro/OitoMeia)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *