Procura-se desesperadamente nos dias de hoje, em tudo o que
de alguma maneira diz respeito à vida publica, o senso de humor brasileiro.
Onde teria ido parar? A capacidade de rir, de si próprios e da vida, que sempre
fez tão bem aos brasileiros, anda sumida nestes tempos azedos em que vivemos.
Eis aí mais um belo pedaço do patrimônio nacional que foi roubado neste país.
Junto com os bilhões saqueados desde janeiro de 2003 da Petrobras, dos fundos
de pensão, dos Correios, da Caixa Econômica Federal, do Ministério dos
Transportes e de quase tudo o que tem alguma coisa a ver com governo, levaram
também a graça do nosso cotidiano. Bem vindos, leitores, ao Brasil do
impeachment – e da divisão que está ensinando os cidadãos a odiarem uns aos
outros por causa de politica. Ria-se de quase tudo no Brasil. Hoje praticamente
não se ri mais de nada. Tudo é terrivelmente sério. O país parece ter
descoberto, de repente, quanto gosta de emoções como o rancor, o despeito ou a
mágoa – ou, mais alarmante ainda, quanto é fácil tratar como inimigo aquele que
apenas tem uma opinião diferente. Não gostamos mais de rir. Agora preferimos
insultar.Perdeu- se a habilitação para perceber o ridículo. Fora, Dilma. Fora,
Temer. Fora isso. Fora aquilo. Estamos ficando um país chatíssimo.
de alguma maneira diz respeito à vida publica, o senso de humor brasileiro.
Onde teria ido parar? A capacidade de rir, de si próprios e da vida, que sempre
fez tão bem aos brasileiros, anda sumida nestes tempos azedos em que vivemos.
Eis aí mais um belo pedaço do patrimônio nacional que foi roubado neste país.
Junto com os bilhões saqueados desde janeiro de 2003 da Petrobras, dos fundos
de pensão, dos Correios, da Caixa Econômica Federal, do Ministério dos
Transportes e de quase tudo o que tem alguma coisa a ver com governo, levaram
também a graça do nosso cotidiano. Bem vindos, leitores, ao Brasil do
impeachment – e da divisão que está ensinando os cidadãos a odiarem uns aos
outros por causa de politica. Ria-se de quase tudo no Brasil. Hoje praticamente
não se ri mais de nada. Tudo é terrivelmente sério. O país parece ter
descoberto, de repente, quanto gosta de emoções como o rancor, o despeito ou a
mágoa – ou, mais alarmante ainda, quanto é fácil tratar como inimigo aquele que
apenas tem uma opinião diferente. Não gostamos mais de rir. Agora preferimos
insultar.Perdeu- se a habilitação para perceber o ridículo. Fora, Dilma. Fora,
Temer. Fora isso. Fora aquilo. Estamos ficando um país chatíssimo.
No caso de Dilma ainda vai. A presidente deposta tem um
talento raro na arte de se tornar malquista – e isso ajuda muito, claro, no
culto geral ao mau humor que existe em relação a ela e seu falecido governo.
Mas Michel Temer? Nunca houve a menor necessidade de ficar com raiva de Michel
Temer. Em mais de quarenta anos de politica o novo presidente nada fez para
merecer paixões – e muito menos ódio. Ao contrário, é o tipo clássico do
perfeito “gente fina”. Um país que consegue ficar com ódio de Michel Temer
realmente decidiu viver de péssimo humor. Pior: um país que se queixa porque
uma figura como a ex-presidente foi embora parece ter tomado a opção de não rir
nunca mais na vida – sim, pois, se até isso é motivo para choradeira, onde alguém
conseguirá encontrar algum motivo para achar graça em alguma coisa? É uma
grande pena que o mundo esteja assim, porque senso de humor faz falta. E faz
falta porque não é, no fundo, uma questão de rir das coisas. É uma questão de
entender como elas são. Na vida prática, o senso de humor acaba funcionando
como a manifestação mais básica do bom-senso; aliás, trata-se possivelmente da
mesma coisa. Como seria viável, sem a ajuda do riso, achar que algo faz sentido
no nosso dia a dia? Viveríamos num mundo perfeitamente insuportável.
talento raro na arte de se tornar malquista – e isso ajuda muito, claro, no
culto geral ao mau humor que existe em relação a ela e seu falecido governo.
Mas Michel Temer? Nunca houve a menor necessidade de ficar com raiva de Michel
Temer. Em mais de quarenta anos de politica o novo presidente nada fez para
merecer paixões – e muito menos ódio. Ao contrário, é o tipo clássico do
perfeito “gente fina”. Um país que consegue ficar com ódio de Michel Temer
realmente decidiu viver de péssimo humor. Pior: um país que se queixa porque
uma figura como a ex-presidente foi embora parece ter tomado a opção de não rir
nunca mais na vida – sim, pois, se até isso é motivo para choradeira, onde alguém
conseguirá encontrar algum motivo para achar graça em alguma coisa? É uma
grande pena que o mundo esteja assim, porque senso de humor faz falta. E faz
falta porque não é, no fundo, uma questão de rir das coisas. É uma questão de
entender como elas são. Na vida prática, o senso de humor acaba funcionando
como a manifestação mais básica do bom-senso; aliás, trata-se possivelmente da
mesma coisa. Como seria viável, sem a ajuda do riso, achar que algo faz sentido
no nosso dia a dia? Viveríamos num mundo perfeitamente insuportável.
Parece que o Brasil criado nesses treze anos de corrupção –
e no trauma que tem sido o combate legal para tirar a chave do cofre da turma
que controlava o governo da Republica – resolveu ignorar o bom senso na
discussão publica. É virtualmente impossível, por exemplo, ler do começo ao fim
um jornal, uma revista ou uma pagina de noticiário eletrônico e ter vontade de
dar um único e apagado sorriso ao longo de toda a leitura: é tudo desespero
choro e ranger de dentes. O Mesmo se pode dizer dos telejornais ou dos
programas informativos do rádio. Não se encontra um mínimo de humor nem mesmo
entre os humoristas – que, no entanto, teriam a obrigação profissional de
tentar fazer as pessoas rirem um pouco. A maioria dos comunicadores dá uma importância ilimitada às próprias virtudes.
Eles usam a soberba para compensar-se pelo muito que imaginam ser e não são;
esquecem o senso de humor que deveria compensá0los pelo que são na realidade.
Tudo é gravíssimo, mesmo fora da vida pública. O porre espetacular de um
nadador americano na Olimpíada do Rio de Janeiro, com certeza uma das melhores
historias de bêbado dos últimos tempos, nunca chegou a ser piada; foi, do
primeiro ao ultimo minuto, um insulto mortal ao Brasil. Parece, em suma, que há
brasileiros demais ativamente empenhados em ser infelizes. Dedicam tanto tempo
e energia a essa tarefa que ficam sem tempo e energia para aproveitar um pouco
melhor a vida.
e no trauma que tem sido o combate legal para tirar a chave do cofre da turma
que controlava o governo da Republica – resolveu ignorar o bom senso na
discussão publica. É virtualmente impossível, por exemplo, ler do começo ao fim
um jornal, uma revista ou uma pagina de noticiário eletrônico e ter vontade de
dar um único e apagado sorriso ao longo de toda a leitura: é tudo desespero
choro e ranger de dentes. O Mesmo se pode dizer dos telejornais ou dos
programas informativos do rádio. Não se encontra um mínimo de humor nem mesmo
entre os humoristas – que, no entanto, teriam a obrigação profissional de
tentar fazer as pessoas rirem um pouco. A maioria dos comunicadores dá uma importância ilimitada às próprias virtudes.
Eles usam a soberba para compensar-se pelo muito que imaginam ser e não são;
esquecem o senso de humor que deveria compensá0los pelo que são na realidade.
Tudo é gravíssimo, mesmo fora da vida pública. O porre espetacular de um
nadador americano na Olimpíada do Rio de Janeiro, com certeza uma das melhores
historias de bêbado dos últimos tempos, nunca chegou a ser piada; foi, do
primeiro ao ultimo minuto, um insulto mortal ao Brasil. Parece, em suma, que há
brasileiros demais ativamente empenhados em ser infelizes. Dedicam tanto tempo
e energia a essa tarefa que ficam sem tempo e energia para aproveitar um pouco
melhor a vida.
Os leitores de romance O Nome da Rosa se lembram do
tenebroso Frei Jorge e do pensamento que serve de alicerce para a sua vida – e,
muito pior ainda, que ele quer impor à vida dos outros. O mais maligno de todos
os pecados é o riso, acredita esse grande caçador de pecadores. Muda a face das
pessoas, afasta a sua mente da virtude e as aproxima do macaco. Ele se esquece,
como observa Frei William, que na verdade o homem é o único ser vivo capaz de
rir. O Brasil de hoje tem Frei Jorge demais circulando por aí.
tenebroso Frei Jorge e do pensamento que serve de alicerce para a sua vida – e,
muito pior ainda, que ele quer impor à vida dos outros. O mais maligno de todos
os pecados é o riso, acredita esse grande caçador de pecadores. Muda a face das
pessoas, afasta a sua mente da virtude e as aproxima do macaco. Ele se esquece,
como observa Frei William, que na verdade o homem é o único ser vivo capaz de
rir. O Brasil de hoje tem Frei Jorge demais circulando por aí.
Fonte: Revista VEJA