Cadê os negros de Parnaíba?

Neste último dia 20 de novembro se comemorou em todo o Brasil o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A lei que instituiu esta comemoração foi sancionada uma semana antes pela presidente Dilma Roussef, que ao assinar o documento ignorou uma velha reivindicação do movimento nacional para que incluísse a data no calendário de feriados nacionais. Este projeto havia sido criado como Dia Nacional de Zumbi em 2003 por sugestão da senadora pelo Mato Grosso, Serys Slhessarengo, curiosamente descendente de ucranianos.
Mas ao tramitar na Câmara dos Deputados recebeu um substitutivo propondo a inclusão da data na relação dos feriados nacionais. De volta ao Senado, a idéia foi rejeitada, embora naquele parlamento tome assento um representante da população negra, o senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul. Mas deixemos as discussões do alto parlamento de lado e nos transportemos para a nossa querida e amada Parnaíba.
Parnaíba, que teve como um dos elementos formadores da sua economia e da sociedade nos séculos XVIII e XIX o negro cativo das fazendas de gado de Simplício Dias e, mais próximo de nós e de nosso tempo, o estivador do Porto Salgado, o carregador de água, o tocador de mulas, vendedor de frutas, o trabalhador braçal na abertura de estradas e de linhas de trens, parece que se esqueceu do passado. Logo agora quando dentro da política nacional existe um movimento crescente pelo resgate e valorização do elemento negro.
Humberto de Campos, famoso escritor maranhense, citado em trabalho recente de Daniel C.B. Ciarlini quando da instalação da Justiça Federal em Parnaíba em 20 de agosto de 2009, lembra “…o majestoso mulato Benedito Guariba, uma vez por ano à frente dos seus caboclos improvisados em marujos portugueses, alvoroça as ruas arenosas de Parnaíba…”
Outro negro que teve e manteve fama de bom músico e construtor foi Pedro Braga, criado de uma orquestra que depois seria a primeira banda de música de Parnaíba e que injustamente estava esquecido, até ter seu nome resgatado pelo historiador Mauro Júnior e que por sua inspiração foi lhe dado o nome da corporação, criada na primeira metade do século XX. Mais adiante outros dois negros ousaram passar a barreira do preconceito e alcançaram relevo por algum tempo, Custódio Amorim e Olegário Manoel Gonçalves, como vereadores.
Por sinal e porque não dizer falta de respeito e ingratidão, quando há décadas passadas se deu a construção de um anexo da Câmara Municipal, foi dado o nome em homenagem ao vereador Custódio Amorim, já há muito anos morto, com direito a retrato e placa na parede. Anos depois, numa dessas reformas de vez em quando, passaram o pincel na parede e retiraram a fotografia, como para esquecer de uma vez por todas que por aquela casa passou um vereador negro.
Da mesma forma que a ingratidão e o preconceito foram usados, inclusive sendo deselegantes os vereadores com os filhos e netos de Custódio Amorim, se deram muito antes com Olegário Manoel Gonçalves, negro, poeta, da região do Catanduvas e vereador, que no tempo de político foi apelidado de O Gorila Assassino, conforme menciona o radialista Rubem Freitas em seu livro, Parnaíba tem Memória, publicado em 2007. E a Parnaíba que sempre se arvorou de educada e culta, se permitiu tamanha grosseria e falta de respeito.
Mas onde estão os negros da Parnaíba? Onde estão os Macaé, os Surubacas, os Guaribas? Onde estão os estudantes, estudiosos e historiadores? Logo agora que a educação parnaibana está no seu patamar mais elevado, que é a universidade, onde a pesquisa e o registro histórico se tornam mais necessários para a compreensão natural de nossa formação social, esta comunidade intelectual faz vistas grossas a tão importante data e registro. De repente até parece que todo mundo na Parnaíba é descendente de suíços!
Pádua Marques para o Proparnaiba.com

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