Sem ajuda do Município Fundação Ninho passa por dificuldades

Durante muito tempo a Fundação Ninho, em Parnaíba, ajudou muitas mães solteiras e adolescentes, contando também com a ajuda da Prefeitura, que destinava anualmente uma quantia em torno de 150 mil reais. Segundo criadora da Fundação, Zulmira Petronília Aguiar, 86 anos, havia “um convênio que vinha por parte da prefeitura, mas foi cortado. Falei com Adalgisa de Moraes Souza, Secretária de Desenvolvimento Social e Cidadania e ela explicou que poderia ajudar com o valor de R$930,00, uma verba que vem através do Governo Federal. Voltei à fundação, reuni as mães com as crianças e expliquei a situação. E disse que no momento só poderia ajudar cada família com cestas básicas. E ficou acertado que sempre às sextas-feiras eu disponibilizaria uma cesta básica. E assim está sendo feito”, diz ela. 

Dona Zulmira com Camila Neto

Com a voz emocionada e os olhos lacrimejantes, Dona Zulmira Petrolina Aguiar, 86 anos, recebeu a reportagem do “Tribuna do Litoral” e relembrou com detalhes toda a história, desde o início da criação da Fundação Ninho, em 1983. Dona Zulmira é uma mulher que mudou a história de várias mulheres na cidade de Parnaíba.

Durante a entrevista ela se emocionou ao falar da visão que teve, no início de tudo, com Nossa Senhora. “Nessa visão ela vinha ao meu encontro e eu pensava que era um retrato. Quando eu rodeei pela coluna ela também veio pelo outro lado. Nesse momento eu falei pra ela: “minha mãe, enquanto vida eu tiver eu garanto que eu vou trabalhar pra você. Naquele mês de maio começamos o trabalho de evangelizar de casa em casa com um pequeno grupo, pregando a palavra de Deus”, relembra

Foi na Rua Coronel Joaquim Antonio, que nessa época abrigava vários prostíbulos, o local escolhido por Zulmira para focar o projeto de evangelização. “As minhas companheiras de grupo não passavam por essas ‘casas’ e então eu falei que aquelas pessoas eram as que mais precisavam ouvir a palavra. Foi quando as visitas começaram. Não foi um começo fácil, mas estava lançado o desafio”, relata.

Residência onde tudo começou (Arquivo Pessoal)

Zulmira viu que as prostitutas não tinham outra atividade além da vida noturna e resolveu ensiná-las atividades manuais como corte, costura, crochês e bordados. Todo material e máquinas eram de Zulmira. Para isso, alugou um bar que estava desativado próximo aos prostíbulos e então conseguia reunir no local várias mulheres. Os cursos duraram dois anos até que o proprietário vendeu o antigo bar e Zulmira teve que transferir a pequena escola para a garagem da sua casa.

“Foi uma briga com a minha família. Ninguém queria. Lá, além de catequizar as meninas, eu também recebia os filhos delas. Quando souberam que a escola ia fechar foi um chororô, mas não deixei isso acontecer. Eu queria que aquelas mulheres tivessem outra atividade, que aprendessem a fazer outra coisa porque aquela vida delas na noite não duraria por muito tempo”, conta

Equipamentos dos cursos de corte e costura

Zulmira falou dos problemas que teve de enfrentar com as madames, as donas dos prostíbulos. Elas começaram a reclamar que as mulheres não estavam disponíveis aos clientes quando eles queriam.

“Eu disse para as madames que as mulheres iriam ficar na escolinha, mas quando um parceiro chegasse elas iriam atendê-lo e eu me comprometi a dar até perfume. “Não estou aqui para acabar com o trabalho de vocês”, declarou Zulmira Aguiar.

Armários com roupas já foram arrombados várias vezes

A Fundação atendia até o ano de 2016 30 mulheres e 30 adolescentes em dois períodos, manhã e tarde, no curso de corte e costura. Todas elas tinham direito a almoço, lanche e jantar, e ainda tinha um local adequado para seus filhos. Infelizmente no ano de 2017 com a entrada do novo prefeito, não teve como manter o funcionamento da fundação.

Hoje a fundação só possui dois funcionários: Francinete Silva e um motorista que acompanha dona Zulmira. Atualmente a fundação, que chegou a atender cerca de 220 famílias, continua oferecendo café da manhã e uma sopa no final da noite para 30 moradores de rua. “Eu não poderia de deixar esses homens desamparados. Porque muitos não têm amor por eles e eu tenho. Quero dizer que esse local (a Fundação) não é de Zulmira, mas aqui é um lugar santo, do Senhor”, concluiu com sua bela lição.

Texto: Camila Neto

Fotos:Bernardo Silva/ Camila Neto

Fonte:Jornal “Tribuna do Litoral”

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.