Triste sina a de José Serra. Nem bem terminou uma eleição em que foi protagonista, ninguém (nem ele) sabe o que será de sua vida.
Pelo que vemos na imprensa, anda à procura de platéias e interlocutores. Topa se encontrar com quem quer que seja, para tratar de qualquer coisa. Se houver alguém que queira conversar, está à disposição.
O problema (para ele) é que não parecem ser muitos os interessados. Salvo um ou outro amigo, um ou outro jornalista fiel, anda sumido e tem que se esforçar para ser lembrado. Fala-se dele, mas não com ele.
Há um ano, era um ator fundamental do jogo político nacional. Depois de um longo percurso, tornara-se o candidato de seu partido à sucessão de Lula. Havia quem o visse como futuro presidente da República, alguns por pura torcida, outros por não entenderem o que as pesquisas diziam.
Ele mesmo, pessoa racional que sempre foi, sabia que suas chances eram pequenas. Tinha consciência de que Dilma era franca favorita e que só se ela errasse teria possibilidades apreciáveis de vencer. Não chegava ao ponto de achar que a derrota era inevitável. Mas não se iludia a respeito das dificuldades.
Via sua candidatura como uma espécie de destino do qual não conseguiria escapar nem se tentasse. Na verdade, sempre a buscara e não seria na hora em que a tinha em mãos que a recusaria. Ele tinha que ser, pelas pressões de seus companheiros e correligionários, e queria ser candidato.
Apesar disso, assumir a candidatura, consciente de que o mais provável era perder, não foi fácil. Deu sinais tão nítidos de hesitação que a grande imprensa paulista, aliada de primeira hora, chegou a publicar editoriais em que avisava que romperia com ele se não fosse em frente. Teve que ir.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi