Por Carlos Chagas
Tentarão os condescendentes dividir a responsabilidade com o governo, afinal, autor da proposta do salário mínimo. Pior ainda para o Congresso, que votou por medo ou por malandragem. Neste caso, imaginando nomear montes de indicados para o segundo escalão da administração pública. Naquele, temendo represálias da presidente Dilma Rousseff.
Seria cômico se não fosse trágico assistir a inversão de valores durante as votações. As forças antes empenhadas em defender os trabalhadores manifestaram-se em favor do arrocho, a começar pelo PT. Já aqueles que no passado davam de ombros para as agruras de 50 milhões de miseráveis travestiram-se em campeões das causas populares. As galerias exprimiram o resultado: vaias para os que até pouco aplaudiam e aplausos para quantos eram vaiados no passado.
A tentação é de dar a cada parlamentar 545 reais, obrigando-os a sustentar-se, e às suas famílias, durante um mês. No Senado, salvaram-se poucos: Roberto Requião e Jarbas Vasconcelos, do PMDB, votaram contra o reajuste. Pedro Simon, Cacildo Maldaner e Luis Henrique, do mesmo partido, abstiveram-se. No PT, nenhuma defecção. Até Paulo Paim cedeu às pressões palacianas.
Ontem, quinta-feira, em maioria deputados e senadores viajaram para seus estados. Quem se desse ao trabalho de fazer plantão no aeroporto de Brasília verificaria que a maior parte botou no bolso ou deixou em casa os escudinhos de lapela, característicos de seus mandatos. Melhor não serem reconhecidos.