VIVERIAM COM 545 REAIS?

Por Carlos Chagas

Não decorreram três meses do dia em que deputados e senadores, em menos de quinze minutos, aprovaram o reajuste de seus próprios vencimentos, de 13 para 26 mil reais. Na noite de quarta-feira os senadores confirmaram o que os deputados haviam votado há uma semana: aumentaram o salário mínimo, de 510 para 545 reais. Para eles, 100%.  Para o trabalhador,  7%, tornando-se vergonhoso atentar para a discrepância de valores.

Tentarão os condescendentes dividir a responsabilidade com o governo, afinal, autor da proposta do salário mínimo. Pior ainda para o Congresso, que votou por medo ou por malandragem.  Neste caso, imaginando nomear montes de indicados para o segundo escalão da administração pública. Naquele, temendo represálias da presidente Dilma Rousseff.
Seria cômico se não fosse trágico assistir a inversão de valores durante as  votações. As forças antes empenhadas em defender os trabalhadores manifestaram-se em favor do  arrocho, a começar pelo PT. Já aqueles que no passado davam de ombros para as agruras de 50 milhões de miseráveis travestiram-se em campeões das causas populares. As galerias exprimiram o resultado: vaias para os que até pouco aplaudiam e aplausos para quantos eram  vaiados no passado.

A tentação é de  dar a cada parlamentar 545 reais, obrigando-os a sustentar-se, e às suas famílias, durante um mês. No Senado, salvaram-se  poucos: Roberto Requião e Jarbas Vasconcelos,   do PMDB, votaram contra o  reajuste. Pedro Simon, Cacildo Maldaner e Luis Henrique, do mesmo partido,  abstiveram-se. No PT, nenhuma  defecção. Até Paulo Paim cedeu às pressões palacianas.

Ontem, quinta-feira, em maioria deputados e senadores viajaram  para seus estados. Quem se desse ao trabalho de fazer plantão no aeroporto de Brasília verificaria  que a maior parte botou no bolso ou deixou em casa os escudinhos de lapela, característicos de seus mandatos. Melhor não serem reconhecidos.    

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