A fama curta dos gansos

Por: Pádua  Marques (*)

 Nestes dias de clima e tempo incertos, quando a gente acaba se aborrecendo com a ideia de andar com um guarda-chuva, passei pela centenária praça da Graça várias vezes e pude observar com certa tristeza que os gansos do lago já não estão com esta bola toda no tratamento dispensado. Pra quem nos primeiros dias de glória foram motivo de belas homenagens até com fonte iluminada no Natal e Ano Novo, tratado, como diria, a pão de ló, agora amargam o ostracismo.

Lembro a alegria de crianças, velhos, casais de namorados, professores, soldados, estudantes e toda sorte de gente tirando selfie pra mandar pros parentes no Cocal da Estação, Cocal de Telha, Brejo dos Anapurus, bairro São Vicente de Paulo, Bom Princípio, Catanduvas e Sabiazal, São Paulo, Brasília. Mostrando pra eles o que lá não tinha e que finalmente Parnaíba estava na relação de cidades elegantes! Tinha gente, como se diz, rindo com os paus!

O dia do abandono ao que parece chegou muito cedo pros gansos da praça da Graça. O sucesso foi curto, curtíssimo feito o desses cantores de funk, esses sertanejos lá de Goiás que ao que parece tem dado em penca feito pequi ou maxixe. Antes os gansos eram fotografados à larga. Todo mundo queria saber de onde eram e quem teve a ideia brilhante de colocar aquelas aves tão exóticas num lago, no meio de uma gente tão modesta.

Recordo agora de uma poesia antiga de minha autoria que é assim: Triste sina a das estátuas. Verões ou invernos, solitárias, mudas. Suportam o frio ou o calor intenso. E a insolência dos pombos e das águias. No caso dos gansos a insolência será o abandono. Lembro que eram vigiados vinte e quatro horas. Mais vigiados que uma creche ou uma escola. Tinha um tratador e um vigia pra ficar com as butecas de olhos bem abertas.

Ao menor gesto de alguém desavisado, uma criança que fosse, tentando se aproximar acima do permitido ou querendo dar comida, era repreendido na hora! Agora ninguém mais nem passa perto com o lago seco e os bichinhos procurando uma poça pra molhar o bico. Ninguém mais tira retrato.

Ninguém se aproxima com uma criança, um sobrinho, afilhado, netinho pra tirar uma selfie e depois mandar pra um parente distante. A fama acabou e a água ao que parece desceu pelo ralo junto. Uns devem estar dizendo pros outros, “que bom foi a nossa fama, mesmo que curta, companheiros”. Mas assim é a vida.

A fonte nunca mais foi ligada. Ninguém diz o que está acontecendo. Ninguém mais tira selfie pra mandar pra madrinha lá na Tutoia dizendo que Parnaíba agora mais parece Paris ou Roma! Falando da capital da Itália, me recordo da história dos gansos do Capitólio.

Eram colocados pra alarmar ao menor sinal da presença de estranhos ou de inimigos. Eram tratados com patente de oficiais e recebiam comida no bico. Os da praça da Graça ao que parece nem tiveram tempo de aprender a lição de seus ancestrais e já estão mais por baixo do que rastro de búzio.

(*)Pádua Marque é jornalista e escritor (Da Academia Parnaibana de Letras)

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