Barragem de Algodões: como vive a cidade e as vítimas quase dez anos após a tragédia


Barragem de Algodões I dias depois após romper e destruir parte da zona rural do município (Foto: Arquivo)

27 de maio de 2009: o dia que não teve fim para quem viu 50 milhões de metros cúbicos de água atravessar a cidade piauiense de Cocal da Estação levar vidas, bens, e um pedaço da história da população do município que nunca mais foi o mesmo. O rompimento da barragem de Algodões está próximo de completar uma década e o atraso do poder público continua o mesmo: da manutenção que poderia ter evitado a tragédia às parcelas da indenização.
Na tarde desta sexta-feira (25/01) o Brasil e o mundo foi surpreendido com mais um desastre ambiental envolvendo barragens e mineração. Dessa fez, as vítimas são de Brumadinho, cidade do estado Minas Gerais. Ao todo, 15 pessoas morreram por conta do rompimento da barragem de Algodões. Em Brumadinho há pelo menos 34 mortos e o número só cresce. E é assim que um passado não muito distante volta como uma nuvem turva, trazendo dúvidas do longo e conflituoso caminho trilhado nos últimos dez anos pelas vítimas de um dos mais tristes capítulos da história do Piauí.
OitoMeia conversou com o professor Corcino Medeiros, o presidente da Associação das Vítimas da Barragem de Algodões (Avaba) e ele contou que, aos poucos, os sobreviventes estão reconstruindo suas vidas, mas deixa claro que não foram anos fáceis.

“Nós fizemos um acordo com a justiça e o Estado para que ele pagasse a indenização em 30 parcelas. O acordo foi feito e hoje já tem pago 20 parcelas. A população está reconstruindo devagar com esse dinheiro, as suas casas e propriedades no mesmo lugar de antes”, informou.

Tragédia da Barragem de Algodões I completa 9 anos e famílias denunciam atrasos no pagamento de indenização (Foto: Arquivo/Extra)

INDENIZAÇÃO VEIO OITO ANOS DEPOIS

Segundo a associação, a comunidade recebe na faixa de R$500 a R$5000. O acordo possibilitou a liberação de R$ 60 milhões para cerca de 900 famílias vítimas do desastre e só ocorreu oito anos depois do rompimento. O valor individualizado é referente a perdas patrimoniais, danos morais, lucros cessantes, eventuais alimentos provisionais, inclusive os em atraso e qualquer outra reparação requerida nas ações coletivas ou individuais.E ainda assim, depois de ter vencido na Justiça, as vítimas sofrem com os atrasos nas parcelas.

“Aos trancos e barrancos estão pagando. A principal crítica é o abandono, desinteresse. Depois da indenização muitos assumiram compromisso com esse dinheiro. O atraso é sempre um problema muito sério”, disse Corcino Medeiros.

O presidente da associação  também informou que hoje a economia da cidade é beneficiada pelas indenizações, local onde a população injeta o dinheiro que recebe. O rompimento da barragem não atingiu todo o município de Cocal da Estação, apenas o bairro “Baixa do Cocal” , juntamente com pontes e estradas.

Cidade ficou devastada após rompimento da barragem (Foto: Reprodução)

LUTA POR TODO O PIAUÍ

Quem teve o passado devastado, hoje luta por um futuro tranquilo. Mais do que isso, a associação conta a sua história, enfrenta e avança na tentativa de que ninguém mais passe pelo pesadelo de ver um pedaço da vida carregado pela água. Reconstruir-se em meio a espera, acordos e desacordos, trouxe às vítimas o sentimento de que não é preciso apenas ser contra a maleabilidade do poder público, é preciso lutar contra.

“Estamos pensando no que vamos fazer quando acabar o pagamento porque o governador não iniciou a obra de construção da barragem [nova represa de Algodões] . Vamos continuar nessa luta. Um dos esforços nossos é que não se repita a mesma coisa em outro lugar, sobretudo aqui no Piauí que está ao nosso alcance. São coisas que não são muito difíceis e caras como uma manutenção permanente, cuidado e vigilância que é o que falta”, lamentou Corcino Medeiros.

A tragédia deixou pelo menos dois mil desabrigados. A água chegou a 20 metros de altura e o caso de repercussão nacional trouxe para o Piauí os holofotes na época. E o que fica são os consistentes relatos de sobreviventes que mais do que a altura da águas enfrentaram uma vida conturbada após a tragédia: uma vida prática, burocrática, que teve que se sustentar em um cenário hostil. O que fica é a lição de que no meio do risco de perder vidas, sonhos e histórias; promessas e meias palavras não tem poder algum.

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