
O sonho de Tiago do Delta, que hoje tem 21 anos, era ter uma sanfona pra aprender a tocar. Um sonho meio distante, devido sua condição financeira. Mas, antes de contar se ele conseguiu ou não realizar esse sonho, vamos contar um pouco da história dele.
Aos 13 anos a mãe incentivou o filho a entrar no mundo musical quando o inscreveu num curso de violão no SESC. Ali nascia, naquele momento, um músico. “Minha mãe olhou para mim e perguntou se eu não queria fazer um curso de violão SESC Avenida, já que eu passava algum tempo em frente à TV. Eu logo de cara falei que sim e foi a partir daí que eu me apaixonei por música. Minha família não é de músicos”.

O músico percebeu que queria aprender outros instrumentos e, para criar novas expectativas dentro do mundo musical, resolveu procurar o maestro Antônio Carlos Lehmkuhl, da época da Orquestra de Câmara de Parnaíba. O desejo era aprender a tocar violino. “Procurei Antônio Carlos, o responsável Orquestra de Câmara, e expliquei o desejo de aprender a tocar violino, porém, não havia vaga para esse instrumento, mas tinha vaga para aprender violoncelo e eu aceitei logo”, relatou.

Thiago passou a frequentar a Orquestra Câmara sempre no horário do contra turno escolar. “Eu estudava pela manhã e eu estudava parte de partituras e teoria musical. Com o passar do tempo eu passei a tocar nos eventos, pela Orquestra da Câmara de Parnaíba. Fiquei tocando violoncelo na orquestra 1 ano e meio, mas aproveitei todas as oportunidades com o professor e aprendi também o violão clássico, que era uma especialidade do maestro. Mas a paixão pelo Acordeon já vinha desde de sempre”. Hoje Thiago, que garante a música faz parte de 80% da sua vida. “Hoje não me vejo fazendo algo que não esteja ligado à música”, falou.

Depois da experiência com Orquestra e com o maestro Antônio surgiu uma nova oportunidade de aprendizado com foco na música. “Apareceu um curso de música na cidade e foi bacana porque a cidade não tem essa inclusão social voltada para a música. Eu me inscrevi e fui selecionado. Foram exatamente 4 meses de teoria musical destinada a músicos de banda e lá tinha vários músicos da cidade, inclusive Camila Portela e Bill Bala. Com esse curso já consegui criar uma amizade dentro do ambiente musical”.

O sonho de tocar a sanfona sempre batendo na porta e como adquiri um instrumento caro e muito novo e sem trabalho. “Um belo dia, sem pretensão nenhum, fui à padaria e encontrei Camila Portela. Era o ano 2015. Eles estavam ensaiando para o dia dos trabalhadores e passei fiquei observando eles tocando. Eles me chamaram: Ei, poder! Era um apelido de curso de música que colocaram. Camila Portela me chamou e perguntou se eu queria tocar teclado. Eu respondi que se fosse sanfona eu aceitaria. Eu só queria um mês e ela perguntou se eu tinha coragem de pegar a sanfona e aprender. E eu respondi que só queria um mês, e ela falou: vem amanhã. No dia seguinte eu fui e na hora que eu peguei a sanfona, todo sem jeito, mas falei para mim que iria aprender. E passava a tarde toda na casa dela depois da escola, sempre de 13h até 19h”, relatou.

Um mês depois ele disse que realizou o primeiro show, pela Banda Xote de Primeira, tocando com sanfona, conforme o combinado. “Fiquei na banda 1 ano e depois me afastei porque entrei na Marinha. Depois voltei a tocar com o Forró Relembrar, por 6 meses. Era só forró das antigas e depois fiquei fazendo freelance com músico da cidade”.
Hoje ele faz parte da Banda JV Farra, que vem fazendo muito sucesso nos bares da cidade e conquistando fãs por eles passam. “JV Farra montou a banda recentemente e me convidaram e estou tocando na banda até hoje”.
Thiago Delta tenta conciliar a música com a Marinha. “Marinha pela manhã e de noite, entre 22h -01h, com música. Meu tempo na Marinha é temporário. São 8 anos e já se passaram 4 anos. A marinha é passageiro, porque tenho o desejo de alcançar outro horizonte”.
Ele disse que também começou o curso de enfermagem e fez até o terceiro período, mas trancou o curso e não voltou. Ele pretende ainda realizar outro sonho, que é fazer o técnico em radiologia.
Ah! E a sanfona? Não posso deixar de contar como ele conseguiu a sua primeira sanfona. Lembra do maestro Antônio Carlos? Ele que ajudou o músico Tiago a realizar o sonho. “ O maestro falou que iria viajar e estava querendo vender o acordeon, porque ele não estava usando e não tinha como levar. Ele me vendeu por um preço bem irrisório. Depois pesquisei outras sanfonas com a ajuda de uma pessoa de Bahia, que tinha bastante conhecimento, comprei uma com meu primeiro décimo terceiro, após entrar na Marinha. A outra eu vendi.
Um bom filho tem feito da música também um meio de ir contribuindo nas despesas dentro de casa. “Hoje moro com meus avôs e sempre ajudo nas despesas. Sou um bom filho e minha família tem muito orgulho por eu ser um músico e pertencer à Marinha. Minha mãe mora aqui e meu pai em Brasília, mas tenho uma ótima relação com os dois”, explica.
Sempre se encantou com a sanfona e logo imaginou que poderia ir atrás. “Hoje vejo que isso foi bom. Amadureci em muitos sentidos, inclusive musicalmente, e realizei meu sonho de tocar acordeon. Valeu a pena todos os esforços e sacrifícios”, finalizou.
A Orquestra de Câmara de Parnaíba foi idealizada em 2006, coordenado pelo maestro Antônio Carlos Lehmkuhl. Até 2016, o projeto já iniciou na música cerca de 2.000 alunos das escolas públicas, transformando a realidade dessas crianças e jovens.
Texto: Camila Neto e fotos: arquivo pessoal
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