Desde antes do “boom” dos ataques de facções criminosas no Ceará que o assunto segurança pública ganha notoriedade no Brasil, sendo um dos carros-chefes nas campanhas presidenciais da última eleição. Agir com “punho de ferro” ou “passar a mão na cabeça” de bandido? Os discursos são vários, mas não saem do palanque e a população, dia após dia, segue aprisionada dentro da própria casa.
No Piauí, o ciclo político recomeça e, com a reeleição do governador Wellington Dias (PT), vem a promessa de aumentar o número de policiais militares (PMs) nas ruas, ainda em 2019, mas sem concurso. É possível? Pela proposta do Karnak, sim. Um projeto de lei será encaminhado para a Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) para permitir que o Estado convoque PMs na reserva para substituírem aqueles que estão ativa, porém pardos nos órgãos públicos.
GRATIFICAÇÃO DE ATÉ R$ 2,5 MIL
A conta parece simples, ou seja, têm-se 720 policiais na ativa fazendo a segurança de órgãos públicos, conforme declarou ao OitoMeia o coronel Lindomar Castilho, comandante da Polícia Militar do Piauí. Pelo menos 220 continuarão nos postos e outros 500 serão substituídos pelos aposentados. Para atrair os PMs da reserva, o Governo promete uma gratificação de R$ 1,4 mil e R$ 2,5 mil.
“Acreditamos que, com esse retorno dos policiais, sim. Vamos fortalecer o policiamento, haverá mais visibilidade, mais viaturas nas ruas. Com certeza, esse sentimento [de segurança] do piauiense vai ser melhor, sobretudo aqui na capital, encontrando mais viaturas a sua disposição, em patrulha, o que vai aumentar o poder de fogo da polícia”, pontuou o coronel.

A apresentação será voluntária e todo o processo de seleção deve acontecer até o fim deste semestre. Apenas candidatos com menos de 65 anos, aprovados em testes de aptidão física e psicológica serão aceitos às funções de guarda do patrimônio público. O valor extra na folha de pagamento será pago pelos órgãos que solicitarem o serviço. Eis, então, uma baita economia para o governador Wellington Dias, que mata dois coelhos com apenas uma cajadada.
POUCOS POLICIAIS MILITARES
Mais 500 policiais seriam mesmo suficientes para garantir mais segurança para as pessoas? Quem estuda sobre o assunto acha o contrário e acredita que a medida visa apenas resolver problemas financeiros do estado. Marcondes Brito, especialista em Segurança Pública consultado pela OitoMeia, contesta a efetividade do projeto de lei e defende melhor remuneração e condições de trabalho desses profissionais, o que pode refletir em mais empenho nas operações.
Marcondes diverge dos números apresentados pelo Comando Geral da PM. O primeiro diz que há 5.960 policiais militares na ativa, com um total de 600 em órgãos públicos, enquanto o segundo fala em 6 mil, incluindo os 720 em guardas patrimoniais.
De uma forma ou de outra, a situação do efetivo do estado é baixa, de maneira que o Piauí figura entre as últimas federações sobre o número de PMs – um policiais militar para cada 597 habitantes, conforme o “Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros 2014”, levantamento feito pelo IBGE e divulgado em reportagem do site Extra em agosto de 2017.
REDUZ GASTOS, MAS NÃO PROMOVE SEGURANÇA
“Esta medida [projeto de lei para convocar PMs da reserva] está muito mais no campo de redução de custos do que de resolução do problema. Em geral, a carreira policial é muito desgastante, tanto é que a incidência de aposentadoria é bem maior por conta da periculosidade e insalubridade. Mais de 20% dos policiais têm problemas psicológicos, dependência de álcool ou depressão relacionada à profissão. Recontratar esses policiais é aumentar o risco”, criticou o especialista ao OitoMeia.
Marcondes argumenta que a guarda patrimonial da maioria dos órgãos públicos, de todos os poderes, poderia contratar a segurança privada. Além disso, parcerias da esfera estadual com as prefeituras para a criação das guardas municipais, profissionais que poderiam agir diretamente nesses órgãos. Por fim, o especialista ressalta a necessidade de se dobrar o efetivo, ou seja, 12 mil PMs seriam suficientes para o trabalho ostensivo em todo o Piauí e que o aumento do efetivo deve acontecer por meio de concurso público.
Edrian Santos (Jornalista, repórter do OitoMeia)